Donald Trump acredita que técnicas de tortura como o waterboarding
(afogamento simulado) resultam no contexto da "luta contra o
terrorismo" e defende a retomada desses métodos porque "o fogo tem de
ser combatido com fogo" e ele, enquanto Presidente, tem de "manter o
país seguro".
Na sua primeira entrevista desde que tomou posse
há uma semana, o Presidente dos EUA deu ontem a entender que não está
excluída a hipótese de voltar a recorrer à tortura de suspeitos de
terrorismo como forma de combater o radicalismo, sublinhando à ABC News
que vai consultar James Mattis, o seu Secretário da Defesa, e Mike Pompeo, novo diretor da CIA, sobre o que pode ser feito "legalmente" nesse sentido.
Para
o novo líder norte-americano, que durante a campanha já tinha namorado a
ideia de recuperar os controversos programas de tortura da CIA que
violam a lei internacional, enquanto houver grupos a decapitar pessoas
no Médio Oriente fará sentido recorrer à tortura, caso contrário os EUA
"não estão a jogar num campo nivelado".
"Quando eles estão a
disparar armas, a cortar as cabeças das nossas pessoas e de outras
pessoas, quando estão a cortar cabeças de pessoas que são cristãs no
Médio Oriente, quando o ISIS [autoproclamado Estado Islâmico ou Daesh]
está a fazer coisas das quais não se ouvia falar desde os tempos
medievais, isso faz-me ser favorável ao waterboarding?",
questionou em tom retórico na conversa com David Muir. "Tenho falado com
pessoas dos mais altos níveis da comunidade de serviços de informação e
colocado a pergunta: 'Funciona? A tortura funciona?' e a resposta tem
sido 'Sim, absolutamente'."
Na quarta-feira, fontes da administração Trump já tinham revelado ao "New York Times"
que, a par de outras questões de segurança nacional, o Presidente
estava a analisar a possiblidade de voltar a recorrer a métodos de
tortura como os que foram usados pela CIA em prisões secretas durante a
administração de George W. Bush, a seguir aos atentados do 11 de
setembro. Em reação à entrevista de Trump, Leon Panetta, ex-diretor da
CIA, disse que fazê-lo será "um erro sério" e um "passo atrás".
"Eles cortam-nos aos bocados e filmam e enviam [as imagens] para todo
o mundo e nós, perante isso, não estamos autorizados a fazer nada?",
questionou Trump na conversa com Muir. "Vou contar com Pompeo e Mattis e
o meu grupo e se eles não quiserem fazê-lo tudo bem. Se quiserem
fazê-lo vamos trabalhar para alcançar esse fim. Quero fazer tudo o que
eu puder fazer legalmente. Mas se sinto que [a tortura] funciona? Sinto
absolutamente que funciona."
Panetta, que Barack Obama incumbiu
de conduzir uma investigação à efiácia do programa de interrogatório da
era Bush, apurou durante esse inquérito que torturar suspeitos traz
poucos ou nenhuns resultados para o combate ao terrorismo e diz que não
se deve dar um passo atrás nesse sentido.
"A realidade é que não precisamos de usar estas técnicas de interrogatório para conseguirmos a informação de que precisamos", disse ontem à BBC World News.
"O general Mattis acredita nisso, outros na comunidade de serviços
secretos acreditam nisso e o FBI acredita nisso, portanto penso que
seria um erro voltar atrás. Penso que iria danificar a nossa imagem
perante o resto do mundo."
Durante a corrida republicana, Trump
indicou num debate com os rivais das primárias que, se fosse eleito
Presidente, ia analisar a hipótese de ordenar às tropas norte-americanas
que recorram a métodos como o waterboarding "e outros mais
duros" ao interrogarem suspeitos de terrorismo. Mais tarde, já enquanto
disputava a Casa Branca com Hillary Clinton, pareceu suavizar a retórica, dizendo que nunca ordenaria ao Exército norte-americano que violasse a lei internacional.
O waterboarding,
a prática de deitar água sobre o rosto de uma pessoa tapado com uma
toalha para simular afogamento, é considerado uma forma de tortura e foi
banido pelos Estados Unidos depois de W. Bush abandonar a presidência.
No
rescaldo da vitória de Trump em novembro, o senador John McCain, rival
de Obama nas presidenciais de 2008 e veterano de guerra que foi, ele
próprio, sujeito a tortura, prometeu fazer tudo para impedir que a história se repita nesse ponto. “Estou-me nas tintas – nós não vamos ter afogamentos simulados”, garantiu o líder do comité de serviços armados do Senado.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/internacional/2017-01-26-Trump-defende-regresso-a-tortura-Sinto-absolutamente-que-funciona
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