O Governo do ex-presidente da Argentina, Maurício Macri, terá
investigado mais de 400 jornalistas entre 2015 e 2019, avançou a
agência EFE com base em fontes oficiais da Agência Federal de
Inteligência (AFI).
Graciela Caamaño, deputada pela província de Buenos Aires e membro do
Conselho argentino da Magistratura, apresentou na última sexta-feira
uma denúncia contra a alegada “produção de informações ilegais sobre
jornalistas, académicos, organizações sociais e partidos políticos” e
vai apresentar esta segunda-feira, em Tribunal, os ficheiros que foram
descobertos.
Entre os documentos encontrados num cofre da Direção de Eventos Especiais da AFI estão os ficheiros de 403 jornalistas, 28 académicos e 59 outras pessoas, separados em três envelopes com a menção “2017”, “Jornalistas do G20” e “Diversos”.
Segundo a queixa, o Ministério da Segurança do Governo de Macri
estabeleceu diretrizes para a acreditação de jornalistas para as
cimeiras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do G20, realizadas
em 2017 e 2018, respetivamente, alegando que o trabalho dos serviços
secretos não foi ordenado nem autorizado por um juiz.
Nestes processos, os jornalistas eram identificados com um “semáforo ideológico”, sinalizando elementos aparentemente mais próximos da linha de Macri a verde, outros a amarelo e os mais críticos a vermelho.
A classificação terá abrangido jornalistas de agências
internacionais, jornais, canais de televisão nacionais e internacionais,
de acordo com os ficheiros a que a EFE teve acesso.
A recolha e classificação de informação foi ainda mais vasta,
incluindo “ligações nos meios de comunicação social, preferências
políticas, publicações sobre redes sociais, simpatia por grupos
feministas ou conteúdos políticos e/ou culturais, entre outras
questões”, num trabalho conduzido “sem controlo ou ordem jurisdicional”.
Graciela Caamaño requereu a audição dos agentes envolvidos nesta
operação, bem como o antigo diretor-geral da AFI, Gustavo Arribas, a
antiga diretora-geral adjunta, Silvia Majdalani, e o antigo presidente
Maurício Macri, “na sua qualidade de responsável pela definição das
orientações estratégicas e dos objetivos gerais da política nacional de
informações”.
Este caso vem adensar ainda mais a polémica em torno da presidência
de Macri, depois de um procurador ter acusado em maio o ex-presidente e o
antigo diretor-geral da AFI, Gustavo Arribas, entre outros
ex-funcionários, de alegada espionagem ilegal durante o seu mandato.
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