Quando a covid-19 chegou ao Panamá no ano passado, o cartógrafo Carlos Doviaza temeu pelas pessoas indígenas da sua comunidade. Por isso, para as ajudar, dedicou-se a fazer aquilo que faz melhor: mapas.
“Pensei: ‘Porque não usar os meus pontos fortes para construir uma plataforma, criada por povos indígenas para povos indígenas, que mostre informação relevante sobre a pandemia de uma forma visual e fácil?”, explicou o panamiano, de 26 anos, à National Public Radio.
O cartógrafo nasceu numa aldeia indígena sem eletricidade, em El Salto, no coração de uma floresta tropical. Durante a adolescência, mudou-se com os pais para a Cidade do Panamá para ter melhores condições de vida, mas acabou por abandonar a universidade, onde estudava Engenharia de Computação, por não conseguir pagar as propinas.
No entanto, sendo um verdadeiro crente no poder da cartografia, decidiu aprender sozinho tudo o que sabe hoje e começou a fazer mapas para ajudar as comunidades indígenas a lidar com vários problemas.
“Aprendi que os dados e os mapas geralmente são mais poderosos do que as palavras”, declarou Doviaza, um dos 400 mil membros da comunidade nativa do Panamá (12% da população do país).
No início da pandemia, o jovem temeu que a sua já vulnerável comunidade – que corre um maior risco de contrair doenças devido à falta de acesso a água potável e cuidados de saúde – fosse duramente atingida.
“Sempre estivemos em desvantagem e eu sabia que tínhamos de nos preparar para o pior”, explicou à NPR.
Foi então que o cartógrafo criou um mapa online interativo para monitorizar a situação pandémica nas comunidades indígenas. O mapa sobrepõe o número diário de casos de covid-19 relatados pelo Ministério da Saúde em cada distrito com as localizações dessas comunidades.
A plataforma, criada em maio do ano passado com a ajuda da fundação de caridade Rainforest Foundation, também mostra quais são os recursos que estão em falta em cada comunidade, como chegar a estas aldeias e onde estão as diferentes organizações que estão a oferecer ajuda.
“O mapa foi ideal porque mostra não só os dados relativos à covid-19, como também todas as informações estruturais de que precisamos para fazer face à crise nestes lugares”, declarou Beatriz Schmitt, coordenadora nacional dos programas de pequenas doações do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP) no Panamá.
Reynaldo Santana, líder da comunidade indígena Naso e conhecido no Panamá como o “último rei das Américas”, partilha da mesma opinião, sobretudo depois de vários meses a ver as pessoas a lutar contra a fome e a falta de cuidados médicos no confinamento.
“Mesmo na cidade mais próxima, as pessoas não nos conhecem e não sabem onde vivemos, muito menos o Governo. Com este mapa, passámos a existir.”
https://zap.aeiou.pt/mapa-ajudou-indigenas-panama-pandemia-393304
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