Um conselheiro do partido Liga atirou mortalmente sobre um imigrante marroquino depois de uma discussão num bar, mas alega ter agido em legítima defesa.
Tudo começou nesta Terça-Feira à noite, na região da Lombardia. Massimo Adriatici, um conselheiro de segurança na cidade de Voghera no partido de extrema-direita Liga, encontra-se em prisão domiciliária desde ontem por “excesso culposo de legítima defesa”, depois de ter atirado sobre um migrante à porta de um bar.
A vítima foi um homem marroquino de 38 anos chamado Youns El Bossettaoui, que acabou por não resistir ao tiro no peito e morreu no hospital. Adriatici alega que interveio quando El Bossettaoui estava a incomodar clientes no bar. Os dois envolveram-se numa luta e a arma disparou acidentalmente quando El Bossettaoui o empurrou para o chão, segundo o depoimento do conselheiro da Liga.
O líder da Liga e senador em Itália, Matteo Salvini, já defendeu Massimo Adriatici, dizendo que o conselheiro agiu em legítima defesa num vídeo publicado no Facebook.
“A hipótese é legítima defesa. Adriatici é um professor de lei criminal, um antigo agente da polícia e um advogado criminal conhecido e estimado. Foi vítima de uma agressão a que respondeu acidentalmente com um disparo que, infelizmente, matou um cidadão estrangeiro”, afirma.
Salvini reiterou o apoio a Adriatici num programa televisivo da Rai TV, a estação pública italiana: “Daquilo que sabemos, ele foi atacado por um criminoso e um imigrante ilegal. Vamos esperar até todas as investigações serem concluídas – quando alguém morre é sempre uma derrota e um tempo de luto, mas temos de ter cautela antes de condenar“.
As declarações de Salvini foram condenadas pelo senador Alan Ferrari, do Partido Democrático, de centro-esquerda. “Num país civilizado e democrático, um conselheiro não atira sobre uma pessoa”, destacou.
Franco Mirabelli, também do Partido Democrático, mostrou-se “arrepiado” com as palavras de Salvini: “Um homem atirou e matou outro homem. É uma tragédia – antes dos julgamentos, o respeito pela vítima deve prevalecer”.
“É inaceitável que um homem desarmado possa perder a vida por um tiro em praça pública, como se estivéssemos no faroeste”, criticou a deputada Valentina Barzotti, do partido Movimento 5 Estrelas, que descreve o incidente como “inquietante“.
O presidente do pequeno partido centrista +Europa, Riccardo Magi, caracteriza o “jogo” de Salvini como “enganador” e acusa-o de “dar aos cidadãos a ideia de que há impunidade quando se atira sobre alguém”.
O caso está a levantar um debate sobre a lei de posse de arma em Itália. Enrico Letta, líder do Partido Democrático, que faz parte da coligação do governo de Draghi com a Liga, apelou à proibição da posse de armas privadas. “Um homem morreu por causa de uma arma. Uma coisa temos e podemos fazer: acabar com a posse de arma privada”, pediu.
De acordo com dados do Small Arms Survey, estima-se que havia em 2017 8.6 milhões de armas nas mãos de civis em Itália, o que equivale a 14.4 armas por cada 100 pessoas. Calcula-se também 1.2 milhões de italianos que não integram forças policiais tenham armas pequenas.
Em Itália, é preciso concluir um processo longo e rigoroso para se obter uma licença para se poder comprar armas e quando as compras são concluídas, é necessário notificar o Ministério do Interior. É preciso ter uma licença especial para ter uma arma em espaços públicos e há limites no tipo e na quantidade de armas que uma pessoa pode ter. A quantidade de munições a que um indivíduo tem acesso também é controlada.
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