sábado, 22 de janeiro de 2022

Porque é que o 5G lançou o caos na aviação dos EUA e o que não aprenderam com a Europa !


O 5G tornou-se num grande problema para a aviação norte-americana e lançou o caos em vários aeroportos, com voos cancelados ou alterados. Mas, afinal, o que está em causa? Entre acusações e desentendimentos, faltou olhar para o exemplo da Europa.

As companhias de telecomunicações norte-americanas AT&T e Verizon lançaram o serviço 5G nos EUA, nesta semana, o que gerou muitas perturbações no sector da aviação.

Grandes companhias aéreas tiveram que cancelar ou mudar planos de voos devido aos receios de segurança com o lançamento da tecnologia sem fios de quinta geração (5G).

O principal medo está relacionada com uma potencial interferência do 5G com as leituras de altitude em alguns aviões, nomeadamente os Boeing 777.

A AT&T e a Verizon anunciaram que suspenderiam o lançamento do 5G perto dos aeroportos. Mas, mesmo assim, várias companhias aéreas cancelaram voos ou fizeram alterações nas suas escalas.

Uma complicação “à 11ª hora” que poderia ter sido resolvida muito antes, como refere o gerente de pesquisa da consultora International Data Corporation (IDC), Jason Leigh, em declarações ao The National, um media do Médio Oriente.
Uma questão de frequências…

Jason Leigh destaca que houve discussões durante “os últimos 12 meses sem uma resolução”.

“A Boeing indicou que há um problema com os altímetros no seu 777, mas não foi capaz de dizer porque é isso um problema apenas para os aeroportos dos EUA e não para aeroportos em outros países, onde o mesmo espectro de banda média foi implantado”, nota ainda Leigh.

Os rádio-altímetros dos aviões dão leituras precisas da altura aquando da aproximação ao solo, pelo que são essenciais para as aterragens.

Esses equipamentos operam nas faixas 4,2 GHz a 4,4 GHz, enquanto as frequências leiloadas para o 5G operam entre 3,7 GHz a 3,98 GHz, o que é muito próximo.

Quanto maior for a frequência, mais rápido será o serviço 5G, pelo que as operadoras de telecomunicações apontam sempre às frequências mais altas.

Contudo, em outros países, como na Europa, por exemplo, o 5G funciona em frequências mais baixas, entre 3.4 GHz a 3.8 GHz, e, portanto, fica mais longe das frequências usadas pelos altímetros.

Até agora, “nenhum risco de interferência insegura foi identificado na Europa”, revelou a Agência de Segurança da Aviação da União Europeia no passado mês de Dezembro.

Em França, as antenas de 5G em torno dos grandes aeroportos foram colocadas afastadas das rotas de voo para minimizar os riscos de interferência, revelou à CNN um dirigente da Agência Nacional de Frequências do país (ANFR), Eric Fournier.

Na Coreia do Sul, o 5G funciona nas frequências de 3.42 a 3.7 GHz e também não foram reportados incidentes desde que foi lançado em Abril de 2019.

“Um dos assuntos mais delinquentes que já vi”

A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA na sigla original em Inglês) já apelou às partes envolvidas para partilharem toda a “informação técnica” e para trabalharem em conjunto rumo a uma solução.

É necessário encontrar um ponto de encontro entre os vários interesses das companhias de aviação, das operadoras de telecomunicações e das autoridades que controlam a segurança aérea.

Mas para alguns especialistas, como Jason Leigh, fica evidente que as “operadoras móveis [dos EUA] não fizeram um bom trabalho” para articular todo o processo, considerando as questões de segurança.

Já o director da consultora de aviação Bauer, Linus Bauer, considera ao The National que a falta de “coordenação e de cooperação entre o Governo, as agências federais, os cientistas e a indústria levou ao caos que estamos a testemunhar”.

“É um dos assuntos mais delinquentes, totalmente irresponsáveis, que eu já vi na minha carreira na aviação”, desabafa, por seu turno, o presidente da Dubai Emirates, Tim Clark, em declarações à CNN.

“Alguém lhes deveria ter dito os riscos e os perigos que o uso de uma certa frequência coloca em torno de aeródromos e campos metropolitanos”, lamenta ainda Tim Clark.

A Dubai Emirates foi uma das companhias que cancelou voos para cidades como Boston, Chicago, Miami e S. Francisco, entre outras.

Entretanto, a Boeing revelou, em comunicado, que está a trabalhar com as companhias aéreas e com os responsáveis das empresas de telecomunicações para encontrar uma “solução orientada por dados” que possa ser usada “a longo prazo” e que garanta que “todos os modelos de aviões comerciais possam operar com segurança à medida que o 5G for implantado nos EUA”.

https://zap.aeiou.pt/5g-caos-aviacao-eua-458628


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