Sorte não basta: probabilidade e psicologia são tão importantes quanto ter as cartas certas.
Um dos jogos de cartas mais adorados no mundo inteiro, o pôquer envolve, principalmente, sorte. Tirar a carta certa na hora em que você mais precisa ou blefar e fazer com que seus oponentes desistam de uma rodada pode acontecer com um amador ou o melhor atleta da modalidade.
Mas jogar pôquer normalmente envolve apostas em dinheiro – e, mesmo que sejam alguns trocados com seus amigos, ninguém gosta de sair perdendo. Para isso, vários estudos e teorias tentam ajudá-lo a fazer um royal straight flush (alinhar as cinco maiores cartas do baralho, todas do mesmo naipe), blefar ou até vencer psicologicamente seu oponente.
Ao contrário da
ciência por trás da sinuca, que só envolve Física pura, o pôquer é uma atividade multidisciplinar, que pede um cérebro rápido para cálculos matemáticos e, ao mesmo tempo, uma análise fria de seu adversário.
É tudo probabilidade
A probabilidade é um ramo da matemática que pode ser bastante simples (jogue uma moeda e as chances de dar cara ou coroa são de 50% cada), mas que complica a vida dos jogadores de pôquer que apostam nela para vencer.
Aqui, por exemplo, é preciso diferenciar as várias formas de pôquer: em algumas, você recebe quatro ou cinco cartas, o que facilita o cálculo. No Texas Hold’em, que é a modalidade mais famosa e jogada em todo o mundo (e utilizada como base para o artigo), são apenas duas – e você precisa formar seu jogo de acordo com o que está na mesa.
No caso de receber duas cartas, existem 52 possibilidades para a primeira e 51 para a segunda – o que resulta em 1.326 mãos diferentes. O jogador comum não sabe os cálculos de cada rodada, mas volta e meia desiste de uma mão porque é pouco provável que saia logo a carta que ele quer. Pelo outro lado, muita gente decora as estatísticas de certas combinações surgirem no jogo.
Será que eu ganho?
Imagine que você tem um par de reis. Seu oponente aumenta a aposta, já que está com um ás e outro valor qualquer. O que fazer? A mesa ainda vai virar cinco cartas – e restam 48 no baralho total, sendo que três delas são ases. Realizando os cálculos, a probabilidade de ele sair no flop (a revelação das primeiras três cartas) é de 17,17%, caindo um pouco nas demais (chamadas de turn e river). Se você acha o número alto demais, é melhor desistir. Se não, siga em frente.
Outra situação: quando você sai com duas cartas do mesmo naipe, qual será a probabilidade de outras três surgirem na mesa para você formar um flush (combinação com cinco do mesmo naipe)? Restam 50 no baralho, 11 do mesmo símbolo que o seu e 5 ainda serão reveladas. A probabilidade é de 5,77%, sem contar o que está na mão do seu oponente (que pode estar na mesma situação).
Outras probabilidades curiosas sobre combinações do jogo, por ordem de força:
Royal flush: 0,000154%;
Straight flush (sequência do mesmo naipe sem terminar no ás): 0,00139%;
Quadra (ou poker): 0,0240%;
Full house (um par e um trio): 0,144%;
Flush: 0, 197%;
Straight (sequência comum): 0,392%;
Trio: 2,11%;
Começar com um par de ases, reis, damas ou valetes: 1,8%.
O negócio é tão complexo que existem
calculadoras especiais para se calcular cada rodada – ação que não ocorre normalmente, claro, mas serve como estudo prévio antes de uma partida.
A arte do blefe
Se você já assistiu a algum torneio de pôquer na televisão, já deve ter visto que alguns jogadores apostam em um vestuário maluco, desde usar capuzes e fones de ouvido gigantes até óculos escuros.
Tudo isso não é preocupação com o que está na moda: cada acessório é usado para esconder as chamadas microexpressões do rosto, que são pequenos e rápidos gestos (a maioria involuntários) que denunciam seus verdadeiros sentimentos, como se você está feliz ou triste com suas cartas – ou se aquela aposta alta não passa de um blefe descarado.
É como se o seu próprio rosto fosse um detector de mentiras, mas descobri-las não é uma tarefa tão fácil. Se para sorrir, beijar ou mastigar utilizamos dezenas de músculos faciais diferentes, para expressarmos sentimentos a quantidade é ainda maior.
O treinamento aqui é ficar atento à reação de seus oponentes, especialmente na hora da revelação das primeiras cartas. Confira algumas microexpressões famosas e o que elas denunciam durante a partida:
Levantar as sobrancelhas: medo ou surpresa;
Mexer ou esfregar as mãos: ansiedade;
Piscar em excesso: nervosismo;
Levantar o lábio superior: raiva, nojo (em apenas um dos lados significa desprezo);
Perda de foco nos olhos: abatimento, tristeza;
“Pés de galinha” ao lado dos olhos e maçãs do rosto bem definidas: alegria.
O seriado “Lie to Me”, lançado em 2009 e estrelado por Tim Roth, trazia um especialista nessas microexpressões – com uma boa dose de ficção, mas mostrando como é possível saber os sentimentos de alguém apenas com um olhar treinado. Só existe uma desvantagem aqui: no pôquer online, jogado via aplicativos móveis ou para computador, nada disso funciona.
Desconstruindo a poker face
Sabe a “poker face” do meme e da música da Lady Gaga? Ela existe de verdade – e é o grande objetivo de um jogador que gosta de mentir. O termo existe no pôquer faz tempo, mas já virou expressão cotidiana.
Ele significa que a pessoa está escondendo todas as microexpressões, formando um rosto neutro, vazio. Desse modo, é quase impossível saber se aquela aposta é feita porque o jogador realmente tem um flush na mão ou uma combinação sem valor.
O poder da psicologia
A maior parte da ciência do pôquer é da estatística, enquanto a poker face é estudada com menos intensidade. Mas em último lugar, apesar de não ser menos importante, está a psicologia dos jogadores.
Os torneios duram horas a fio, com uma pressão absurda em cima de quem está na frente: ganhar uma rodada é relativamente fácil e pode acontecer com qualquer um, mas manter-se no topo é só para os psicologicamente mais estáveis.
Por isso, mais do que esconder as microexpressões, a dica é desenvolver autocontrole: nada de abrir um sorriso largo ao ver a carta que precisava ou dar socos na mesa por ter perdido mais uma vez. Se um jogador erra por várias rodadas seguidas, ele provavelmente vai arriscar uma vitória desesperada na próxima – e é sua chance de tirá-lo da jogada.
Também vale a pena ter atenção: cada jogador é imprevisível, mas muitos mantêm um padrão: apostam sempre em determinada situação, largam as cartas se o valor passar de um número específico de fichas.
Antes de enfrentar uma mesa, monte uma estratégia psicológica para si mesmo. Muita gente gosta de papear durante a partida para analisar ou desconcentrar os demais, enquanto outros jogadores preferem o silêncio. Escolha seu estilo e, claro, tenha uma boa sorte!
Com essas ciências, você dificilmente saberá quais cartas seu oponente está segurando, mas já pode prever lances e ter uma ideia aproximada do que fazer – além de levar toda a bolada que você está apostando, claro. Mas sempre tome cuidado: o pôquer rende fortunas com a mesma facilidade com que tira.
Fonte:
http://www.tecmundo.com.br/esporte/18745-a-ciencia-por-tras-do-poquer.htm