Companhia comemora o 70.º aniversário neste sábado, num momento em que o Governo tenta concluir a sua privatização com sucesso.
Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/tap-nascida-ha-70-anos-com-liberdade-no-adn-1689090
“A TAP é provavelmente a única companhia aérea do mundo cujo fundador
é um herói da liberdade”. A frase, da autoria de Frederico Delgado
Rosa, neto e biógrafo de Humberto Delgado, o General Sem Medo, abre o
texto que assina nas páginas da revista de bordo que este mês está
colocada no banco da frente em todos os 77 aviões da TAP, que todas as
semanas levantam voo cerca de 2500 vezes.
O orgulho de
"certidão de nascimento" da empresa Transportes Aéreos Portugueses ter a
assinatura do então tenente-coronel Humberto Delgado é óbvio e a data
nela aposta, 14 de Março de 1945, faz com este sábado seja o dia oficial
para a comemorações do 70º aniversario da companhia aérea. Humberto
Delgado, à frente do secretariado de aeronáutica civil e que à época
despachava directamente com Salazar, demitiu-se das funções no exacto
dia em que inaugurou o sonho que o levou a exercer o cargo: fazer uma
ligação aérea entre Lisboa, Luanda e Lourenço Marques (actual Maputo).
“Portugal
era a única potência colonial que não tinha uma companhia de bandeira.
Humberto Delgado assumiu essa tarefa e o desafio enorme de fazer a
ligação às colónias, que estavam a mais de 20 mil quilómetros de
distância. Em tempo recorde, a ambiciosa viagem inaugural da Linha Aérea
Imperial (assim chamada ao gosto daqueles tempos) teve a sua descolagem
no dia 31 de Dezembro de 1946. Humberto Delgado, agastado com a
ausência de Salazar, demitiu-se nesse dia”, contou o neto.
“Os
genes de liberdade e da ambição, esses, ficaram timbrados no seu ADN”,
termina Delgado Rosa, que se escusa a tomar uma posição pública no
assunto que mais tem mobilizado as opiniões no que ao futuro da TAP diz
respeito: o processo de privatização da empresa, que está já em curso e
que tem a data de 15 de maio como limite para a apresentação de
propostas. “Tenho deixado bem claro a importância que atribuo à TAP como
empresa estratégica de Portugal e a importância que tem para os
portugueses. Quem quer que entre num avião da TAP sente que está a
entrar em Portugal.”
Delgado Rosa vai estar na manhã deste sábado
no Museu do Ar na inauguração oficial da Exposição “70 Anos a voar/A
Linha Imperial: uma ponte entre a Europa e África”, que documenta o
ousado sonho de fazer uma ligação aérea entre Lisboa, Luanda e Lourenço
Marques, ao lado de todas as entidades oficiais. À tarde, na Alameda D.
Afonso Henriques, em Lisboa, o cineasta António-Pedro Vasconcelos vai
coordenar uma festa de anos menos institucional: “haverá um bolo e vamos
desenhar com uma moldura humana os nossos parabéns à TAP”, explicou ao
PÚBLICO. Uma manifestação que servirá também para sensibilizar a
população e recolher de assinaturas para a convocação de um referendo
que possa travar o processo de privatização da TAP.
“Há uma
ligação sentimental muito forte entre os portugueses e a TAP. Todos têm
andado distraídos com outras questões - até porque lhes foram
directamente ao bolso, com os aumentos de impostos e as reduções de
salários - mas agora está muita mais gente desperta para as negociatas
que têm vindo a ser feitas no âmbito das privatizações. É altura de
dizer basta”, argumenta o realizador, aqui como porta-voz do “Não TAP os
olhos”.
Este movimento de cidadãos contesta os argumentos de que
a privatização da TAP é obrigatória - já que a ela o país se
comprometeu na assinatura do memorando com a troika, segundo o Governo
- ou até mesmo urgente. “Já não estamos a falar de uma empresa
deficitária, mas de uma empresa rentável”, sustenta António-Pedro
Vasconcelos. “Não queremos sobretudo”, acrescenta o realizador, “que
continuem em marcha negociatas como a que deu o monopólio dos
aeroportos, que se transformaram num gigantesco centro comercial. Os
novos donos da ANA têm-se limitado a aumentar as taxas a seu belo
prazer”.
O ponto alto da agenda deste movimento será o concerto
marcado para a próxima quarta-feira no Coliseu dos Recreios, por onde
desfilarão nomes como Jorge Palma, Kátia Guerreiro, Sérgio Godinho,
OqueStrada, e apresentação de Rita Blanco e Virgílio Castelo.
Vasconcelos diz que a organização deste concerto - para uma equipa não
profissional - lhes tem consumido muita atenção e energias. António
Pedro Vasconcelos diz que depois do concerto será mais fácil aos seus
elementos se empenharem na angariação de assinaturas que permitam
convocar um referendo. São necessárias 75 mil. António Pedro Vasconcelos
diz que já foram recolhidas cerca de 25 mil. Na página de internet, a
petição conta com um pouco mais de cinco mil nomes. O certo é que esta
petição congrega várias vontades: as dos que são contra o processo de
privatização, em termos ideológicos e definitivos, e os que não têm
tanta certeza. Isto é, ate admitem que a empresa pode vir a ser
privatizada, mas que contestam que o seja nas actuais circunstâncias e
por um governo que está em final de mandato.
Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/tap-nascida-ha-70-anos-com-liberdade-no-adn-1689090