Desde o final da Segunda Guerra Mundial que existem muitas
teorias de que Adolf Hitler é descendente de judeus. A questão tem sido
alvo de um intenso debate entre vários historiadores, mas não há nenhuma
justificação suficientemente palpável para a corroborar.
Adolf Hitler liderou um regime que massacrou milhões de pessoas em
toda a Europa, onde as principais vítimas foram os judeus. Como tal, foi
um choque quando o advogado do líder nazi, Hans Frank, afirmou, antes da sua execução em 1946, que o ditador tinha uma costela judaica.
Como advogado pessoal do Fuhrer, e governador-geral da
Polónia durante a Segunda Guerra, Hans Frank acabou por ser executado
durante os julgamentos de Nuremberga em 1946. Em 1953, sete anos depois,
as suas memórias e declarações foram publicadas no livro Im Angesicht des Galgens.
O que não se esperava é que este pudesse conter uma revelação bombástica: Frank sugeriu que Adolf Hitler era descendente de judeus.
O braço direito dos nazis afirmou que realizou uma investigação sobre
a árvore genealógica de Hitler a pedido do próprio em 1930. De acordo
com Frank, o meio-sobrinho do ditador havia encontrado evidências da sua ascendência judaica e estava a usar essas informações para o ameaçar.
No livro é descrito que a avó paterna de Hitler, Maria Anna Schicklgruber,
teria sido cozinheira de uma família judia em Graz, na Áustria. Durante
este período, supostamente, Schicklgruber engravidou de um homem
desconhecido e deu à luz o pai de Hitler, Alois Schicklgruber, em 1837. O bebé foi registado como uma “criança ilegítima” quando nasceu, uma vez que o paradeiro do seu pai era desconhecido.
Ao longo da sua vida, o Fuhrer sempre disse que Johann Georg Hiedler – o homem que se casou com Maria Anna Schicklgruber em 1842 – era o seu avô paterno e todos acreditavam nessa versão.
No entanto, contra todos os argumentos, Frank sugere que o pai de
Alois era o filho do patrão de Maria Anna Schicklgruber, Frankenberger
Sr.
Hans Frank garantiu que as cartas entre Schicklgruber e Frankenberger
corroboravam essa teoria, já que este havia enviado dinheiro à jovem
para pagar uma pensão de alimentos. O advogado sugeriu isso como uma evidência de que o avô paterno de Hitler era realmente judeu.
Contudo, e como realça o Ati, de acordo com a lei tradicional judaica, o status
de judeu é apenas transmitido pela mãe. Uma vez que a suposta
descendência de Hitler teria sido transmitida apenas através do seu pai,
isso significaria que um ritual de conversão seria necessário para que
este fosse considerado judeu.
Várias teorias sem fundamento
Durante a década de 1950, o autor alemão Nikolaus von Preradovich
encontrou uma falha nos argumentos de Frank. Preradovich disse ter
descoberto que “não havia judeus em Graz antes de 1856”, mas isso não
impediu que a história sobre a herança genética de Hitler se difundisse.
A teoria da ascendência judaica de Hitler ressurgiu em 2019 quando o psicólogo Leonard Sax
divulgou um artigo onde analisou a alegação. No estudo, publicado no
Journal of European Studies, Sax revelou ter encontrado evidências nos
arquivos austríacos de que havia de facto uma comunidade judaica em Graz
antes de 1850, ao contrário do que tinha dito Preradovich.
De acordo com de Sax, Emanuel Mendel Baumgarten, um
dos primeiros indivíduos judeus eleitos para o conselho municipal de
Viena em 1861, havia pedido ao governador da Estíria – a província
austríaca onde Graz está localizada – para levantar as restrições aos
judeus que viviam na região.
Ainda assim, estas justificações não foram suficientes para provar
que o avô paterno do ditador era judeu. Desta forma, a teoria da
conspiração foi rejeitada por muitos historiadores.
O historiador Richard Evans, autor da Trilogia do Terceiro Reich,
foi um dos especialistas que contestou o estudo de Sax. “Mesmo que
houvesse judeus a viver em Graz na década de 1830, na época em que o pai
de Adolf Hitler, Alois, nasceu, isso não prova nada”, explicou.
Evans recorda ainda que Frank teve um desentendimento com Hitler
e estava a enfrentar uma sentença de morte, razões que o fazem
acreditar que o advogado já não tinha nada a perder ao publicar um livro
que, provavelmente, estava carregado de mentiras.
Além disso, Evans diz não haver nenhuma evidência de que a avó de
Hitler esteve em Graz, nem qualquer prova de que uma família com o
apelido “Frankenberger” estava a morar na zona durante esse período.
Também o historiador Ian Kershaw apontou, no livro Hitler 1889-1936: Hubris, lançado em 1998, que o homem que supostamente seria o avô de Hitler teria apenas 10 anos quando Alois nasceu.
Ao contrário de Hitler, Eva Braun, a sua companheira, tinha antepassados judeus.
Em 2014, um documentário do canal britânico Channel 4 teve por base um
cabelo que alegadamente pertenceu a Braun, no qual foi encontrado um
fragmento de ADN transmitido pela linha maternal – o haplogrupo N1b1 –
associado aos judeus asquenazim, de origem europeia.
https://zap.aeiou.pt/adolf-hitler-nao-ascendencia-judaica-381490