Monitorização dos edifícios permite perceber se há movimento dos ocupantes dentro das casas. Desta forma, é mais fácil evitar que corpos em decomposição permanecem no local ao longo de muito tempo.
O Japão é um dos países do mundo com mais idosos – que geralmente vivem sozinhos e acabam por morrer sem que ninguém dê conta.
Muitas das vezes, as pessoas morrem em casa e o corpo fica em decomposição durante dias, meses, ou até anos, sem que seja levantado para posteriormente ser enterrado. Isto faz com que a casa ganhe um cheiro intenso que depois acaba por ser muito difícil de eliminar, obrigando a elevados custos de limpeza.
Por outro lado, na hora de vender o imóvel, o facto de alguém ter morrido lá pode ser um impedimento para que os interessados queriam avançar com a compra.
Ainda depois de serem devidamente limpas, estas casas ficam com o rótulo estigmatizado e não lucrativo de jiko bukken – que indica uma propriedade onde alguém morreu.
Desta forma, os proprietários são obrigados a informar os novos inquilinos de mortes anteriores no local, bem como das práticas de limpeza que ocorreram.
De acordo com a Suumo, uma conhecida empresa imobiliária japonesa, os preços das propriedades onde alguém morreu de morte natural diminuem de 10 a 20%, 30% em caso de suicídios e cerca de 50% em assassinatos e outros crimes.
Contudo, este problema pode ser minimizado.
Várias empresas japoneses estão a instalar serviços de monitorização de Inteligência Artificial (IA) e sensores de movimento que detetam movimentos – ou a falta deles – dentro das casas. A tecnologia pode indicar que os ocupantes já não se movimentam e este pode ser um sinal de alerta.
Esta é uma forma de evitar que os corpos se decomponham dentro dos lares, evitando assim um serviço de limpeza mais caro e difícil de executar, escreve o Vice.
A R65 inc., uma agência imobiliária japonesa que ajuda pessoas com 65 anos, ou mais, a encontrar casas, oferece esse serviço. Com o “Pacote de Relógios Tranquilizadores”, a empresa instala uma ferramenta de IA que regista o uso de eletricidade de um residente e monitoriza qualquer anormalidade.
Se ao longo de mais de 20 horas não for detetado nenhum movimento, uma chamada de voz automática contacta os moradores. Caso não haja resposta, é enviado um e-mail ao agente imobiliário responsável pelo imóvel para que se desloque até ao edíficio.
A Tokyo Gas, principal fornecedora de gás e eletricidade da capital, também instalou tecnologias semelhantes, sendo que o objetivo é instalar sensores em mais de 70.000 casas a partir de dezembro.
No entanto, a tecnologia não é benéfica apenas para as empresas e agentes imobiliários.
Segundo o Vice, muitos clientes destas empresas mostram-se satisfeitos com o mecanismo, pois referem que não quererem ser um fardo após a morte.
Há também quem afirme que este método pode trazer alguma dignidade depois da morte, pois é preferível ser encontrado como se estivesse apenas a dormir, e não num ponto elevado de decomposição.
Em 2018, só em Tóquio, houve 5.513 mortes solitárias, um número seis vezes superior ao de assassinatos confirmados em todo o país.
https://zap.aeiou.pt/japao-sistema-corpos-decomposicao-438144
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