Sebastian Kurz e pessoas que lhe são próximas foram acusados de tentar garantir a sua ascensão à liderança do partido e do país com a ajuda de sondagens manipuladas e notícias favoráveis na imprensa, financiadas com dinheiro público. O chanceler acabou por se demitir.
Em maio de 2017, as sondagens inverteram-se e enalteceram o partido conservador da Áustria, dando aos conservadores a credibilidade de que necessitavam para convencer os eleitores de que seriam capazes de vencer. E conseguiram, cinco meses depois.
Com apenas 31 anos, Sebastian Kurz tornou-se o chanceler mais jovem de sempre na Áustria e formou Governo com a extrema-direita. Agora, a esperança de que Kurz seria o rosto da nova geração de uma direita em ascensão, que salvou o conservadorismo, caiu por terra.
Kurz e pessoas que lhe são próximas foram acusados de tentar garantir a sua ascensão à liderança do partido e do país com a ajuda de sondagens manipuladas e notícias favoráveis na imprensa, financiadas com dinheiro público.
Os procuradores afirmam que o chanceler austríaco comprou o terceiro maior tabloide austríaco com mais de um milhão de euros em subornos, disfarçados de publicidade.
“O que os eleitores viram não era real”, disse Helmut Brandstätter, um antigo editor, citado pelo The New York Times. Brandstätter tornou-se legislador e diz ter sido intimidado por Kurz e pressionado a deixar o seu emprego. “Era um esquema para influenciar as eleições e minar a democracia.”
Kurz, que se demitiu do cargo de chanceler a 9 de outubro, negou qualquer ato ilícito e não foi acusado de qualquer crime, mas permanece sob investigação por suborno e desvio de fundos.
O diário norte-americano teve acesso às 104 páginas da acusação e caracteriza-as como um thriller político: nelas, os procuradores documentam meticulosamente um plano secreto para manipular a opinião pública com o objetivo de conquistar o poder e, posteriormente, de o cimentar.
Kurz é acusado de se ter apropriado de fundos do Ministério das Finanças, usando-os para financiar sondagens manipuladas que beneficiassem a sua imagem. O meio usado para a publicação dessas mesmas sondagens foi o jornal austríaco The Oesterreich, fazendo-o em troca de publicidade pública.
O chanceler demissionário terá lesado o Estado e os seus contribuintes em, pelo menos, 300 mil euros. Segundo o NYT, Thomas Schmid, conselheiro e amigo próximo de Sebastian Kurz, servia de ponte entre o chanceler e os oficiais do Ministério das Finanças.
Sempre que alguma notícia não era favorável à governação do chanceler, Schmid explicava que isso acontecia porque “ainda não lhes tinham oferecido nenhum dinheiro”. O conselheiro encontrava depois um elo de ligação no respetivo meio de comunicação para controlar a linha editorial e subornava-o.
Os procuradores tiveram acesso a mensagens de telemóvel, mas Kurz já veio a público dizer que “todas as mensagens eram trocadas no calor do momento” e que “não deveriam ser retiradas do contexto”.
Sebastian Kurz, que chegou ao poder com apenas 31 anos, era conhecido como o “menino prodígio” e encarado por alguns como um futuro líder do conservadorismo europeu. A sua saída inglória e o escândalo austríaco deitou por terra as expectativas.
https://zap.aeiou.pt/o-lado-negro-de-sebastian-kurz-438697
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