À semelhança do que acontece com as outras áreas da sociedade, a política não consegue fugir às redes sociais, sendo estas plataformas um espaço essencial para as campanhas eleitorais da atualidade. Depois de Barack Obama ter inaugurado o conceito em 2008, no Facebook, os candidatos às presidenciais francesas tentam agitar as águas no TikTok, a rede social que começou a fazer sucesso durante a quarentena entre os jovens e que atualmente já se compara às outras gigantes do setor.
Emmanuel Macron deu o pontapé de partida de julho de 2020, com um vídeo curto onde aparece de fato e gravata nos jardins do Palácio do Eliseu para felicitar os finalistas do ensino secundário que tinham acado de receber as notas dos seus exames finais. Menos de 24 horas depois, foi a vez do seu adversário político, Jean-Luc Mélenchon aderir à mesma rede social. Para a sua estreia, escolheu uma abordagem distinta. Deixou-se filmar na rua, à saída de uma estação de metro, enquanto gracejava, se ria dele próprio e citava Wejdene, cantor francês de R&B.
Em ano de eleições presidenciais, o TikTok ganha mais relevância, assumindo até o estatuto de “campo de batalha”, onde os candidatos podem esgrimir argumentos e chegar às gerações mais jovens. Não é, por isso, de estranhar que também Valérie Pécresse, Eric Zemoour, Marine le Pen e Yannick Jadot — todos candidatos confirmados — também tenham aderido à rede social. São, de resto, apenas alguns dos muitos que se renderam aos vídeos de poucos segundos, o que fez do TikTok uma das aplicações mais descarregadas em França em 2020.
Tal como nota o France 24, cinco anos após o seu lançamento, a rede social tem agora mais de seis milhões de visitas por dia no país. Nela é possível ver vídeos de música, dança, humor, moda, sendo a audiência, na sua maioria (75%), constituída por indivíduos com menos de 24 anos. Segundo Paul Smith, professor de política francesa na Universidade de Nottingham, cerca de um terço dos utilizadores não têm sequer idade para votar, no entanto, os restantes constituem um número demasiado vasto para serem ignorados. “Vai ser uma eleição muito renhida e a presença nas redes sociais é absolutamente vital.”
Tentar convencer os jovens eleitores a ir às urnas não é um dado adquirido ou missão fácil, mas até a mais pequena mobilização pode ser importante e relevante para o resultado eleitoral. De acordo com as sondagens, Emmanuel Macron deve vencer confortavelmente a primeira volta, mas quem o acompanhará é ainda uma incógnita. “Deve ser decidido por meio milhão de votos“, estima Smith.
Existe também entre os candidatos a sensação de que nestas eleições o voto dos jovens será mais determinante do que nunca, já que a outrora certa preferência destes pela esquerda já não é assim tão certa, de acordo com as sondagens. Em 2022, aponta Paul Smith, os jovens serão uma franja do “eleitorado que poderá estar mais disposta a mudar de opinião do que os votantes mais velhos”.
De todos os candidatos, o atual presidente Emmanuel Macron — apesar de ainda não ter confirmado que se irá recandidatar a um segundo mandato — é o que dispõe de uma audiência mais vasta: detém 2.8 milhões de seguidores e mais de 18 milhões de ‘gostos’ nas suas publicações — as quais, depois daquela estreia, ganharam uma nova roupagem, mais informal e mais adequada a uma audiência mais jovem. O fato deu lugar a polos e Macron é visto a segurar no próprio dispositivo de filmagem, num estilo selfie.
Para além da preparação para as presidenciais, a aposta no TikTok também serve a agenda de Macron no que respeita à sua afirmação como um presidente jovem que pretende aliar a tecnologia ao seu mandato. Nos seus pais próximos, Jean-Baptiste Djebbari, ministro dos Transportes, tornou-se uma estrela de forma inesperada na rede social, graças à sua capacidade de misturar humor, tendências da internet e anúncios relativos à sua área de governação.
Na mesma linha, também Jean-Luc Mélenchon continua a apostar na sua abordagem descontraída, com vídeos que podem variar entre discursos políticos ou mensagens de provocação humorística aos seus adversários. Esta já tinha sido a estratégia seguida pelo político de esquerda nas eleições de 2017 — nas quais “impulsionou o uso de tecnologia de formas muito interessantes“. Chegou, inclusive, a participar em reuniões onde parecia estar, de forma simultânea, em várias cidades francesas, isto com recurso a hologramas.
A aposta no TikTok tem se revelado mais bem sucedida para uns do que para outros. Por exemplo, Mélenchon tem visto o seu número de seguidores aumenta sucessivamente desde setembro, ultrapassando o milhão. A audiência de Zemmour e Le Pen também tem crescido a um ritmo acelerado, apesar de os números totais se ficarem pelas centenas de milhares. Eric Zemoour tem também tirado partido da sua experiência nos órgãos de comunicação, apesar de a sua publicação mais popular ser de um momento de lazer, numa ida ao bowling.
Apesar do sucesso, alguns candidatos preferem manter-se à margem, algo que o especialista em política percebe que justifica com a personalidade de cada um. “Tudo se resume a algo tão simples, como: Adequa-se às personalidades? Estão à vontade? Caso a resposta seja não, então não vale a pena”, explica Paul Smith. Para estes candidatos, há sempre a opção de cingirem a sua campanha aos métodos tradicionais, apesar da incerteza provocada pela pandemia da covid-19 poder obrigar a reajustes quase da noite para o dia.
https://zap.aeiou.pt/na-era-da-covid-19-a-conquista-dos-votos-dos-jovens-para-as-presidenciais-francesas-acontece-no-tiktok-456999
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