Representantes democratas no Congresso dos Estados Unidos
afirmaram, esta segunda-feira, que o inspetor-geral do Departamento de
Estado despedido na semana passada pelo presidente Donald Trump estava a
investigar uma possível ilegalidade de uma venda de armas à Arábia
Saudita.
O negócio terá sido efetuado em 2019 e, segundo os democratas, a
informação “levanta novas questões” à forma como o inspetor-geral Steve Linick
acabou abruptamente demitido, tendo o secretário de Estado
norte-americano Mike Pompeo, vindo já a público negar qualquer ato de
represálias quanto ao inquérito que estava em curso.
Os democratas indicaram que Linick estava a investigar a forma como o Departamento de Estado conseguiu vender armamento à Arábia Saudita no valor de 7.000 milhões de dólares (cerca de 6,5 milhões de euros) depois das objeções apresentadas pelo Congresso.
Inicialmente, os democratas tinham sugerido que a demissão teria
ligações à investigação de alegações de que Pompeo possa ter dado ordens
impróprias para elementos próximos de si transmitirem recados pessoais.
Até agora, nem a Casa Branca nem o Departamento de Estado avançaram
qualquer explicação para o afastamento de Linick, situação que acontece
no meio de preocupações dos democratas sobre a decisão de Trump demitir vários inspetores-gerais e alguns executivos de diferentes departamentos.
O Presidente dos Estados Unidos limitou-se a indicar que tinha perdido a confiança nos que despediu, mas não avançou as razões específicas.
Eliot Engel, o líder do Comité para os Negócios Estrangeiros da
Câmara dos Representantes, afirmou estar preocupado por Linick ter sido
afastado antes de completar a investigação.
Engel, aliás, tinha pedido a investigação após Pompeo ter, em maio de
2019, invocado uma lei federal raramente utilizada para contornar a
revisão do Congresso sobre as vendas de armas à Arábia saudita e aos
Emirados Árabes Unidos.
“[O inspetor-geral] estava a investigar, a meu pedido, a falsa declaração de emergência
de Trump para que se pudesse enviar as armas para a Arábia Saudita. Não
temos ainda todos os dados, mas é preocupante que o secretário de
Estado Pompeo tenha afastado Linick antes de a investigação acabar”,
sublinhou Engel.
O presidente do Comité para os Negócios Estrangeiros da Câmara dos
Representantes disse ter pedido ao Departamento de Estado para entregar
todos os documentos relacionados com o despedimento de Linick que ele
próprio, bem como o senador Bob Menendez, também democrata e membro do
Comité dos Negócios Estrangeiros mas por parte do Senado, tinham
solicitado sábado passado.
Hoje, Pompeo negou que o afastamento de Linick esteja ligado a um
“ato de represália” tendo como base a investigação em curso contra ele
próprio.
“Não é possível que essa decisão seja fruto de uma vontade de represálias
contra um inquérito que estava ou está em curso. É tão simples como
isso, uma vez que nem sequer estava ao corrente” da investigação,
afirmou o chefe da diplomacia norte-americana em declarações ao diário
Washington Post.
Sábado passado, os eleitos democratas no Congresso dos Estados Unidos
iniciaram o inquérito ao despedimento de Linick, medida anunciada por
Engel e por Menendez.
“Contestamos firmemente o afastamento de inspetores-gerais por
motivos políticos”, declararam Engel e Menendez, num comunicado. “O
facto de Linick ter sido demitido das suas funções no decurso deste
inquérito sugere fortemente tratar-se de um ato ilegal de represálias”,
indicou Engel.
Os dois eleitos democratas exigem que os altos responsáveis do
Governo conservem todos os documentos relacionados com este despedimento
e que os transmitam até 22 de maio às comissões responsáveis pelo
inquérito.
Segundo a CNN, o próprio Pompeo sugeriu o afastamento de Linick e escolheu pessoalmente o seu sucessor, Stephen Akard, um antigo colaborador do vice-Presidente Mike Pence.
De acordo com a lei norte-americana, a administração deve prevenir o
Congresso com 30 dias de antecedência da sua intenção de demitir um
inspetor-geral, para permitir a contestação da decisão pelos deputados.
A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, declarou que
Linick, nomeado em 2013 por Barack Obama para supervisionar os 70 mil
milhões de dólares (64,7 mil milhões de euros) gastos pela diplomacia
norte-americana, foi “punido por ter cumprido honradamente o seu dever
de proteção da Constituição” e da “segurança nacional”.
Donald Trump afastou ou demitiu inspetores-gerais para o Pentágono,
os serviços de informações ou o departamento de Saúde, e ainda um alto
responsável científico, Rick Bright, que até finais de abril dirigia uma
agência responsável pelas vacinas (Barda).
https://zap.aeiou.pt/inspetor-demitido-trump-venda-armas-325275
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