O Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro divulgou esta
sexta-feira um vídeo de uma reunião ministerial de abril que compromete o
Presidente brasileiro.
Após afirmar que não recebe informações da Polícia Federal nem de outros serviços de inteligência, Bolsonaro confirma interferência: “É uma vergonha. Eu não sou informado e não dá para trabalhar assim. Por isso, vou interferir. Ponto final.”
De acordo com as transcrições publicadas pelo jornal Folha de São Paulo,
Bolsonaro ameaçou interferir na Polícia Federal e disse que não ia
esperar “f.” alguém da sua família ou dos seus amigos para tomar
providências.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro
oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha
família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar
alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai
trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o
chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para
brincadeira”, disse.
O vídeo esta sexta-feira divulgado pelo STF era apontado pelo
ex-ministro Sergio Moro como prova sobre a alegada interferência do
Presidente brasileiro na Polícia Federal.
Além das questões relacionadas com Bolsonaro, o juiz do STF Celso de
Mello indicou que, após assistir ao vídeo, descobriu “prova da aparente
prática, pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, de possível crime contra a honra dos juízes do Supremo Tribunal Federal.
“O povo está gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a
gente está perdendo, está perdendo mesmo. O povo está querendo ver o que
me trouxe até aqui. Eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, disse Abraham Weintraub, citado na decisão assinada pelo juiz Celso de Mello.
Em causa está a conversa gravada numa reunião de ministros, ocorrida
na sede da Presidência, em Brasília, e que foi citada no depoimento do
ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, que
acusa Bolsonaro de alegada interferência na Polícia Federal.
Na reunião, e de acordo com Moro, Bolsonaro teria exigido a troca do
superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, a fim de evitar uma investigação a familiares e aliados.
A Advocacia-Geral da União (AGU) brasileira, órgão que defende o
Executivo em processos judiciais, defendia que apenas fossem divulgadas
as falas de Bolsonaro, e não as dos restantes participantes da reunião,
tendo entregado um documento com as declarações do chefe de Estado
isoladas. Já a defesa de Sergio Moro pede a divulgação total do conteúdo do vídeo.
O vídeo da polémica reunião estava sob sigilo no STF, tendo sido divulgado na tarde desta sexta-feira.
A reunião ministerial em causa ocorreu em 22 de abril, dois dias antes da renúncia
de Moro, quando denunciou “pressões inaceitáveis” por Bolsonaro em
relação à Polícia Federal, um órgão autónomo subordinado ao Judiciário,
embora o seu diretor seja nomeado pelo Presidente da República.
“O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele
queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse
ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente”, declarou Moro, ao anunciar a sua demissão.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, diz, no mesmo vídeo divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que quer armar a população para evitar a instauração de uma ditadura no Brasil.
“Como é fácil impor uma ditadura no Brasil, como é fácil.
O povo está dentro de casa. Por isso eu quero, ministro da Justiça e
ministro da Defesa, que o povo se arme”, afirmou Bolsonaro, dirigindo-se
a dois dos seus ministros.
Na mesma gravação, o chefe de Estado brasileiro quer a garantia de
que não vai aparecer alguém no país “para impor uma ditadura”,
considerando ser fácil a imposição desse regime, bastando um prefeito
fazer um decreto que deixe todas as pessoas “dentro de casa”.
“Se tivesse armado, ia para a rua. Se eu fosse ditador, eu desarmava,
como fizeram todos no passado, antes de impor a sua respetiva ditadura.
Eu peço ao Fernando [Azevedo e Silva, ministro da Defesa] e ao Moro
[Sergio Moro, ex-ministro da Justiça] que, por favor, assine essa
portaria hoje [22 de abril]”, acrescentou.
Segundo a transcrição do vídeo divulgada pelo STF, Jair Bolsonaro pergunta: “Porque é que eu estou a armar o povo? Porque eu não quero uma ditadura. Não dá para segurar mais”.
Na decisão, o juiz do STF Celso de Mello publicou quase na íntegra
quer o vídeo, quer a transcrição da reunião. Apenas não permitiu a
divulgação das “poucas passagens do vídeo nas quais há referência a
determinados Estados estrangeiros”.
No vídeo destacam-se palavrões e injúrias a ministros e a ameaça de demissão “generalizada” a quem não adotasse a defesa de assuntos defendidos pelo Governo.
https://zap.aeiou.pt/video-pode-comprometer-bolsonaro-326103
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