Ingrid von Oelhafen tinha já 58 anos quando descobriu que tinha sido levada por nazis no âmbito de um projeto que tinha como objetivo cuidar de mulheres racial e geneticamente valiosas.
Quando Ingrid von Oelhafen tinha apenas três anos, a Alemanha estava ainda em ressaca da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, o casal que a criava separou-se e Ingrid foi parar a um orfanato.
Mais tarde, já com 11 anos de idade, o seu pai reapareceu. Certo dia, o seu pai levou-a a uma consulta médica, na qual foi chamada de Erika Matko.
“Eu não sabia quem era a Erika, mas não perguntei”, lembrou Ingrid à BBC. Este era o nome que aparecia em todos os seus documentos oficiais, reparou depois.
Ingrid acabaria por falar com a empregada de limpeza da casa, que lhe confidenciou que o casal com quem a jovem estava não eram os seus pais biológicos.
Aos 13 anos, Ingrid foi para Hamburgo para morar com a mãe. Um ano depois encontrou algo que a deixou perplexa.
“Lembro-me de estar numa esquina e havia muitos pósteres da organização da Cruz Vermelha com fotos de crianças… e vi a minha própria cara. Fiquei atordoada. O meu corpo ficou dormente. As fotos eram de crianças deslocadas pela guerra ou tiradas das suas casas e a Cruz Vermelha estava a realizar uma campanha para reuni-las com as suas famílias”, contou Ingrid à BBC.
A jovem não teve coragem de confrontar a sua mãe e prosseguiu com a vida, também ignorando a identidade de Erika Matko.
“O meu diploma de fisioterapeuta tinha esse nome. Eu não podia mudar os nomes que estavam nos documentos”, salientou Ingrid.
Em 1999, quando já tinha 58 anos, Ingrid recebeu uma chamada da Cruz Vermelha a perguntar se desejava saber mais sobre os seus pais biológicos.
“Disse imediatamente que sim e eles colocaram-me em contacto com um historiador para me ajudar a descobrir um pouco sobre a minha história”, contou a jovem.
Enquanto isso, Ingrid encontrou algo estranho nos seus documentos: “Eu tinha uma ficha de vacinação contra a varicela. O documento foi assinado por um nazi, Dr. Hesch, e tinha o meu nome, data e local de nascimento. Dizia que eu era cidadã alemã. Mas também tinha a palavra Lebensborn”.
Ingrid nunca tinha ouvido falar da palavra e, por isso, decidiu fazer uma breve pesquisa na internet.
“O objetivo do Lebensborn é acomodar e cuidar de mulheres grávidas racial e geneticamente valiosas, que, após cuidadosa investigação das suas famílias e dos pais das crianças, podem dar à luz crianças igualmente valiosas”, lia-se no resultado da pesquisa.
Com o objetivo de criar uma “raça superior”, os nazis não só mataram milhões de pessoas, como também lançaram projetos para trazer novos “arianos” ao mundo.
“Lebensborn era um programa da SS e estabeleceu lares para as chamadas mães arianas. Além disso, também traziam crianças roubadas da Polónia, Noruega e Jugoslávia, para fins de germanização”, conta a fisioterapeuta. “Escolhiam bebés loiros com olhos azuis”.
O historiador concluiu que Ingrid vinha de uma região daquilo que é hoje a Eslovénia. Após contactarem as autoridades eslovenos descobriram a sua verdadeira identidade. A mãe chamava-se Helena e o pai chamava-se Johan Matko. Os dois tiveram uma filha chamada Erika. “Fiquei tão feliz. Foi uma sensação incrível!”, confessou Ingrid à BBC.
Posteriormente, recebeu uma carta a dizer que a filha do casal em questão ainda estava viva. Assim sendo, Ingrid não era Erika. Eram duas pessoas distintas.
Ingrid acabaria por conseguir localizar Erika, mas esta recusou conversar consigo — ao contrário de outras membros da família Matko, que até aceitaram fazer um teste de ADN. Os resultados revelaram que Ingrid “tinha mais de 90% de parentesco com essa família”.
Alguns anos mais tarde, Ingrid descobriu que o seu pai, Johan Matko, tinha sido um combatente da resistência que lutou contra a ocupação nazi da Jugoslávia. Johan foi capturado, enviado para um campo de concentração e a sua filha, Ingrid, foi afastada dos pais e levada para a Alemanha.
A pele branca, os cabelos loiros e os olhos azuis chamaram a atenção dos soldados nazis, que aproveitaram a criança para o programa Lebensborn.
O mesmo arquivo de documentos nazis que revelou a identidade do pai de Ingrid, também adensou ainda mais o mistério.
“Os documentos mostram que Erika Matko foi levada como parte do programa Lebensborn, mas também dizem que minha mãe veio com três filhos e saiu com três filhos”, conta Ingrid.
Assim, a outra menina era filha de uma outra família. A criança foi criada pelos pais biológicos de Ingrid, que não só lhe deram o nome de Erika Matko, como também nunca procuraram a sua filha biológica.
https://zap.aeiou.pt/ingrid-levada-nazis-raca-superior-461897
Quando Ingrid von Oelhafen tinha apenas três anos, a Alemanha estava ainda em ressaca da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, o casal que a criava separou-se e Ingrid foi parar a um orfanato.
Mais tarde, já com 11 anos de idade, o seu pai reapareceu. Certo dia, o seu pai levou-a a uma consulta médica, na qual foi chamada de Erika Matko.
“Eu não sabia quem era a Erika, mas não perguntei”, lembrou Ingrid à BBC. Este era o nome que aparecia em todos os seus documentos oficiais, reparou depois.
Ingrid acabaria por falar com a empregada de limpeza da casa, que lhe confidenciou que o casal com quem a jovem estava não eram os seus pais biológicos.
Aos 13 anos, Ingrid foi para Hamburgo para morar com a mãe. Um ano depois encontrou algo que a deixou perplexa.
“Lembro-me de estar numa esquina e havia muitos pósteres da organização da Cruz Vermelha com fotos de crianças… e vi a minha própria cara. Fiquei atordoada. O meu corpo ficou dormente. As fotos eram de crianças deslocadas pela guerra ou tiradas das suas casas e a Cruz Vermelha estava a realizar uma campanha para reuni-las com as suas famílias”, contou Ingrid à BBC.
A jovem não teve coragem de confrontar a sua mãe e prosseguiu com a vida, também ignorando a identidade de Erika Matko.
“O meu diploma de fisioterapeuta tinha esse nome. Eu não podia mudar os nomes que estavam nos documentos”, salientou Ingrid.
Em 1999, quando já tinha 58 anos, Ingrid recebeu uma chamada da Cruz Vermelha a perguntar se desejava saber mais sobre os seus pais biológicos.
“Disse imediatamente que sim e eles colocaram-me em contacto com um historiador para me ajudar a descobrir um pouco sobre a minha história”, contou a jovem.
Enquanto isso, Ingrid encontrou algo estranho nos seus documentos: “Eu tinha uma ficha de vacinação contra a varicela. O documento foi assinado por um nazi, Dr. Hesch, e tinha o meu nome, data e local de nascimento. Dizia que eu era cidadã alemã. Mas também tinha a palavra Lebensborn”.
Ingrid nunca tinha ouvido falar da palavra e, por isso, decidiu fazer uma breve pesquisa na internet.
“O objetivo do Lebensborn é acomodar e cuidar de mulheres grávidas racial e geneticamente valiosas, que, após cuidadosa investigação das suas famílias e dos pais das crianças, podem dar à luz crianças igualmente valiosas”, lia-se no resultado da pesquisa.
Com o objetivo de criar uma “raça superior”, os nazis não só mataram milhões de pessoas, como também lançaram projetos para trazer novos “arianos” ao mundo.
“Lebensborn era um programa da SS e estabeleceu lares para as chamadas mães arianas. Além disso, também traziam crianças roubadas da Polónia, Noruega e Jugoslávia, para fins de germanização”, conta a fisioterapeuta. “Escolhiam bebés loiros com olhos azuis”.
O historiador concluiu que Ingrid vinha de uma região daquilo que é hoje a Eslovénia. Após contactarem as autoridades eslovenos descobriram a sua verdadeira identidade. A mãe chamava-se Helena e o pai chamava-se Johan Matko. Os dois tiveram uma filha chamada Erika. “Fiquei tão feliz. Foi uma sensação incrível!”, confessou Ingrid à BBC.
Posteriormente, recebeu uma carta a dizer que a filha do casal em questão ainda estava viva. Assim sendo, Ingrid não era Erika. Eram duas pessoas distintas.
Ingrid acabaria por conseguir localizar Erika, mas esta recusou conversar consigo — ao contrário de outras membros da família Matko, que até aceitaram fazer um teste de ADN. Os resultados revelaram que Ingrid “tinha mais de 90% de parentesco com essa família”.
Alguns anos mais tarde, Ingrid descobriu que o seu pai, Johan Matko, tinha sido um combatente da resistência que lutou contra a ocupação nazi da Jugoslávia. Johan foi capturado, enviado para um campo de concentração e a sua filha, Ingrid, foi afastada dos pais e levada para a Alemanha.
A pele branca, os cabelos loiros e os olhos azuis chamaram a atenção dos soldados nazis, que aproveitaram a criança para o programa Lebensborn.
O mesmo arquivo de documentos nazis que revelou a identidade do pai de Ingrid, também adensou ainda mais o mistério.
“Os documentos mostram que Erika Matko foi levada como parte do programa Lebensborn, mas também dizem que minha mãe veio com três filhos e saiu com três filhos”, conta Ingrid.
Assim, a outra menina era filha de uma outra família. A criança foi criada pelos pais biológicos de Ingrid, que não só lhe deram o nome de Erika Matko, como também nunca procuraram a sua filha biológica.
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