Mário Draghi abriu as hostilidades no Fórum do Banco Central Europeu
(BCE) em Sintra com um discurso em que a tónica foram as reformas
estruturais. O tema do encontro é inflação e desemprego – e foi o que
animou as discussões académicas entre nomes ilustres como Olivier
Blanchard (do FMI), Peter Praet (do BCE) ou Jordi Gali (economista
catalão) toda a manhã, que se ‘entreteram’ a analisar o trade-off entre
as duas variáveis – mas Draghi preferiu insistir nas reformas
estruturais como forma de ajudar a zona euro a ultrapassar a crise.
“A expressão ‘reformas estruturais’ é mencionada em aproximadamente um terço dos discursos dos vários membros do board
do BCE”, começou por dizer. Lembrando, no entanto, que esta insistência
não tem a ver com o facto de não ter havido reformas nos últimos anos –
“temos elogiado os progressos onde eles tem existido, incluindo aqui em
Portugal”.
Para o presidente do BCE, “as perspetivas económicas
são hoje melhores do que foram durante sete longos anos”, “a política
monetária está a ter o seu impacto na economia”, “o crescimento está a
recuperar” e “as expectativas de inflação recuperaram do seu fundo”.
Dito
assim, parece estar tudo a correr bem. Qual o problema então? Draghi
explica: “A recuperação cíclica da economia sozinha não resolve todos os
problemas da Europa. Não elimina o excesso de dívida que afeta algumas
partes da União. Não elimina o elevado nível de desemprego estrutural
que assombra demasiados países. E não elimina a necessidade de
aperfeiçoar o desenho institucional da nossa união monetária”.
A
recuperação cíclica dá, sim, espaço para os governos atuarem no lado
das reformas estruturais que ajudem o regresso do crescimento. Ao
contrário do que fez o ano passado em Jackson Hole, no encontro anual da
Reserva Federal dos EUA, quando defendeu maiores estímulos à procura
agregada - o que em economês significa defender politicas keynesianas –
agora olhou para o lado da oferta da economia.
“A política
monetária pode levar a economia de volta ao seu potencial. As reformas
estruturais podem aumentar o potencial. E é a combinação de politicas do
lado da procura e da oferta que podem trazer estabilidade e
prosperidade duradouras”, sublinhou.
Ainda que, à primeira
vista, as recomendações de Draghi pareçam estar fora do tema da
conferência, não deixam de tocar num dos pontos fulcrais. Os diversos
economistas que foram desfilando esta manhã debruçaram-se sobre a
chamada curva de Phillips que relaciona inflação e desemprego. No caso
concreto, o debate centrou-se na comparação entre EUA e zona euro, onde o
desemprego é atualmente mais do dobro, e também no comportamento desta
relação quando a inflação está próxima de zero ou mesmo negativa.
O
presidente do BCE preferiu olhar para uma possível saída para o cenário
de elevado desemprego e perspetivas de fraco crescimento neste ambiente
de juros e inflação bastante baixos.
O que são reformas estruturais?
“A
melhor definição de reformas estruturais é, na minha perspetiva, como
políticas que alteram de forma permanente e positiva o lado da oferta da
economia”, sublinhou Draghi. São reformas que têm dois efeitos:
“aumentam o produto potencial” e “tornam as economias mais resistentes a
choques ao facilitarem a flexibilidade de salários e preços e a
realocação de recursos”.
Em termos de impacto no
crescimento potencial que “algumas instituições internacionais estimam
que esteja abaixo de 1% na zona euro, comparado com um valor acima de 2%
nos EUA”, o banqueiro central lembra estimativas da OCDE que apontam
para um ganho de 11% no PIB per capita de um país médio da União
Europeia ao fim de dez nos pela adoção das melhores práticas em áreas
como mercado de trabalho, segurança social ou política fiscal.
A
receita de Draghi para reformas com maior impacto no curto prazo passa,
por exemplo, por facilitar o investimento, a criação de empresas ou a
resolução de problemas de insolvência. Para efeitos de longo prazo, os
alvos são os habituais: regras laborais, proteção social, mercado de
produto, entre outras.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/economia/2015-05-22-A-receita-anticrise-de-Draghi-reformas-estruturais-reformas-estruturais-reformas-estruturais
Nenhum comentário:
Postar um comentário