Mais de 3,2 milhões de irlandeses estavam convocados às urnas das sete
horas da manhã (03h00 de Brasília) às dez da noite (18h00 de Brasília).
Os eleitores deveriam responder à pergunta sobre se desejavam ou não
acrescentar um artigo à Constituição irlandesa que diz: "o casamento
pode ser contratado em conformidade com a lei por duas pessoas, sem
distinção de sexo".
O resultado desta consulta é esperado para a tarde de sábado. Caso o
'sim' vença, a Irlanda será o primeiro país do mundo a aprovar em
referendo o casamento homossexual, algo que Croácia e Eslovênia tentaram
antes, sem êxito.
Segundo as últimas pesquisas, o 'sim' ganhará com vantagem, embora a
distância em relação ao 'não' tenha diminuído nos últimos dias.
"Podemos alcançar o direito de nos casar no dia 22 de maio, e isso
tirará um grande peso de nós e de todos os que gostam de nós; será uma
libertação e um marco na histórica de crescente tolerância da Irlanda",
escreveu o escritor irlandês Colm Tobin, homossexual, em um artigo no
jornal The Independent.
Toibin lembrou em seu texto seu colega e compatriota Oscar Wilde
(1854-1990), que foi condenado a dois anos de prisão por ser homossexual
e morreu praticamente exilado em Paris.
Fora da casa onde Wilde residiu quando era criança, na praça Merrion do
centro de Dublin, estavam colados dois cartazes pedindo o "sim".
"Tenho um filho de três anos e se algum dia no futuro me perguntar no
que votei, a única resposta que ficaria feliz em dizer é que votei
'sim'", explicou à AFP Rowland Crawte, de 37 anos, perto da casa de
Wilde.
A campanha do 'não' se manteve discreta, a ponto de muitos de seus
ativistas se negarem a falar com a AFP, inclusive sob anonimato.
Rachel Stanley, de 60 anos, disse que votou contra para "proteger o matrimônio e a estabilidade das crianças".
Stanley defendeu o argumento central dos que se opõem à medida, segundo
o qual a emenda constitucional facilitaria ainda mais aos casais
homossexuais casar ou ter filhos, quando de fato isso já é possível.
A consulta ocorre 22 anos depois da descriminalização da
homossexualidade num país onde a influência da Igreja católica, embora
em declínio, continua sendo importante.
"O casamento deve ser reservado à relação única e complementar entre um
homem e uma mulher, que é a única que torna possível a geração e a
educação dos filhos", disseram em um comunicado os bispos católicos da
Irlanda.
Embora a Irlanda avance na secularização e os escândalos de abusos
sexuais tenham prejudicado muito a imagem da Igreja, ela não desapareceu
das vidas dos irlandeses.
Segundo o último censo de 2011, 84,2% dos irlandeses ainda se
identificam como católicos. Mais de 70% dos casamentos ainda ocorrem em
igrejas, os sinos que marcam a oração do Ângelus seguem soando duas
vezes por dia na RTE, na televisão e nas rádios nacionais, e mais de 90%
das escolas primárias são propriedade ou patrocinadas pela Igreja.
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