As tensões estão aumentando no Báltico. Os recentes exercícios militares da OTAN na Lituânia mostram que a organização realmente planeja manter uma estratégia de cerco constante, sem interrupções. Tropas dos Estados Unidos, Canadá, Portugal e Espanha participaram na última semana de outubro de operações militares extremamente complexas naquela região, realizando exercícios de guerra aérea com o objetivo de treinar forças ocidentais para uma possível situação de guerra. Curiosamente, os testes foram realizados com discrição, só tendo sido revelados no início de novembro. A intensa participação de militares portugueses e espanhóis revela um preocupante processo de adesão de países europeus sem grande potencial de defesa aos discursos anti-russos da NATO.
No dia 29 de outubro, foram realizados exercícios de guerra da OTAN no Mar Báltico, com a participação apenas de militares e equipamentos militares americanos, canadenses, portugueses e espanhóis. O objetivo principal da operação foi realizar um amplo teste de policiamento aéreo e treinar táticas de guerra “anti-superfície”, modalidade de combate com armas aéreas contra alvos no mar ou na terra. Dentre os diversos pontos dos testes, a mídia foi informada que os principais foram fortalecer técnicas de integração de veículos aéreos e navais e armas em situações de combate, otimizar procedimentos de localização e identificação e qualificar tropas da OTAN para o uso de armas anti-superfície. , que ainda é um tópico menos trabalhado do que o combate naval direto ou a guerra terrestre.
Para além dos habituais equipamentos e veículos americanos e canadianos, a utilização em larga escala de armas portuguesas e espanholas surpreendeu os especialistas. Os caças F-16M da Força Aérea Portuguesa atuaram em conjunto com a fragata portuguesa NRP Corte Real F332 em operações simulando um cenário de guerra aérea e naval. A fragata NRP é uma das armas mais poderosas da Marinha Portuguesa, possuindo extensos sistemas de guerra electrónica e anti-mísseis, equipamento de defesa e vigilância de longo alcance, para além de peças de artilharia pesada, mísseis Harpoon e Sea Sparrow e tubos de torpedo MK46. A tripulação da fragata inclui cerca de 200 pessoas e tem helicópteros Lynx Mk95 entre seus equipamentos.
A fragata espanhola ESPS Almirante Juan de Borbón também participou da operação. Os navios da classe F-100 da ESPS estão entre as armas mais avançadas de todo o arsenal naval espanhol, possuindo equipamentos semelhantes aos da fragata portuguesa. As fragatas USS Arleigh Burke DDG-51 e canadense HMCS Fredericton FFH-37 completaram o cenário dos exercícios.
Embora ocasionalmente ocorram exercícios restritos a alguns países, em geral, os testes da OTAN, em particular os realizados no Báltico, mobilizam tropas de muitos Estados. Esta prova, no entanto, parece ter-se limitado quase totalmente às tropas da Península Ibérica, com um papel de coordenação e liderança operado pelas forças de Washington e Ottawa. O caso é bastante curioso porque revela algo para além da mera intenção da NATO de manter constantemente tropas no Báltico, assinalando um possível interesse por parte de Lisboa e Madrid em manter uma participação activa no cenário militar europeu.
Obviamente, é justo que cada estado queira ampliar sua participação militar em seu espaço regional, mas a situação deve ser analisada levando-se em conta as intenções que estão por trás de tais operações. É sabido que as atitudes da OTAN nos Estados Bálticos e em todo o Leste Europeu se centram em provocar a Rússia, criando um ambiente de tensão e hostilidade, para além de uma política de sítio, nos países geograficamente mais próximos do maior rival geopolítico da os EUA.
Essas medidas são “justificadas” pelo discurso da suposta “ameaça russa”, que é cada vez mais reconhecida como fraude. O crescimento de uma visão crítica do papel da OTAN na Europa é evidente, com uma diminuição do interesse por parte dos maiores Estados europeus em participar em operações que atendem apenas aos planos estratégicos de Washington. Atualmente, a França, maior potência militar do espaço europeu, defende a criação de uma organização militar europeia, independente da OTAN. Em contraste, aparentemente, estados menores com baixo potencial militar estão agindo na direção oposta e buscando expandir seu papel na aliança ocidental.
É um processo natural que com a diminuição da participação das maiores potências europeias na OTAN, alguns Estados mais fracos procurem aumentar o seu papel, em busca de status internacional, ampliação da influência regional e investimentos na indústria militar por parte de Washington. Mas é claro que Portugal e Espanha têm mais a perder do que a ganhar ao se envolverem nestas disputas.
Historicamente, o espaço em que Portugal e Espanha tentam exercer influência é o Norte de África, procurando manter laços de amizade com nações do Mediterrâneo e sem envolvimento em conflitos no outro pólo do continente europeu. As rivalidades com a Rússia nunca fizeram parte da realidade ibérica. Portugal e Espanha são nações historicamente neutras em grandes conflitos globais, tendo até se recusado a participar da Segunda Guerra Mundial. Tentar um papel mais ativo na OTAN seria romper com uma tradição diplomática de neutralidade e amizade que faz desses países grandes lugares pacíficos na arena europeia. Além disso, é evidente que estes países não podem participar militarmente em operações de grande escala, visto que mesmo os seus equipamentos mais avançados - as fragatas vistas na Lituânia - estão muito aquém da atual tecnologia militar das grandes potências. Então, de fato, Lisboa e Madrid pensam que estão agindo estrategicamente, mas estão sendo usados e prejudicados pela OTAN.
Lucas Leiroz é pesquisador em direito internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
https://undhorizontenews2.blogspot.com/
No dia 29 de outubro, foram realizados exercícios de guerra da OTAN no Mar Báltico, com a participação apenas de militares e equipamentos militares americanos, canadenses, portugueses e espanhóis. O objetivo principal da operação foi realizar um amplo teste de policiamento aéreo e treinar táticas de guerra “anti-superfície”, modalidade de combate com armas aéreas contra alvos no mar ou na terra. Dentre os diversos pontos dos testes, a mídia foi informada que os principais foram fortalecer técnicas de integração de veículos aéreos e navais e armas em situações de combate, otimizar procedimentos de localização e identificação e qualificar tropas da OTAN para o uso de armas anti-superfície. , que ainda é um tópico menos trabalhado do que o combate naval direto ou a guerra terrestre.
Para além dos habituais equipamentos e veículos americanos e canadianos, a utilização em larga escala de armas portuguesas e espanholas surpreendeu os especialistas. Os caças F-16M da Força Aérea Portuguesa atuaram em conjunto com a fragata portuguesa NRP Corte Real F332 em operações simulando um cenário de guerra aérea e naval. A fragata NRP é uma das armas mais poderosas da Marinha Portuguesa, possuindo extensos sistemas de guerra electrónica e anti-mísseis, equipamento de defesa e vigilância de longo alcance, para além de peças de artilharia pesada, mísseis Harpoon e Sea Sparrow e tubos de torpedo MK46. A tripulação da fragata inclui cerca de 200 pessoas e tem helicópteros Lynx Mk95 entre seus equipamentos.
A fragata espanhola ESPS Almirante Juan de Borbón também participou da operação. Os navios da classe F-100 da ESPS estão entre as armas mais avançadas de todo o arsenal naval espanhol, possuindo equipamentos semelhantes aos da fragata portuguesa. As fragatas USS Arleigh Burke DDG-51 e canadense HMCS Fredericton FFH-37 completaram o cenário dos exercícios.
Embora ocasionalmente ocorram exercícios restritos a alguns países, em geral, os testes da OTAN, em particular os realizados no Báltico, mobilizam tropas de muitos Estados. Esta prova, no entanto, parece ter-se limitado quase totalmente às tropas da Península Ibérica, com um papel de coordenação e liderança operado pelas forças de Washington e Ottawa. O caso é bastante curioso porque revela algo para além da mera intenção da NATO de manter constantemente tropas no Báltico, assinalando um possível interesse por parte de Lisboa e Madrid em manter uma participação activa no cenário militar europeu.
Obviamente, é justo que cada estado queira ampliar sua participação militar em seu espaço regional, mas a situação deve ser analisada levando-se em conta as intenções que estão por trás de tais operações. É sabido que as atitudes da OTAN nos Estados Bálticos e em todo o Leste Europeu se centram em provocar a Rússia, criando um ambiente de tensão e hostilidade, para além de uma política de sítio, nos países geograficamente mais próximos do maior rival geopolítico da os EUA.
Essas medidas são “justificadas” pelo discurso da suposta “ameaça russa”, que é cada vez mais reconhecida como fraude. O crescimento de uma visão crítica do papel da OTAN na Europa é evidente, com uma diminuição do interesse por parte dos maiores Estados europeus em participar em operações que atendem apenas aos planos estratégicos de Washington. Atualmente, a França, maior potência militar do espaço europeu, defende a criação de uma organização militar europeia, independente da OTAN. Em contraste, aparentemente, estados menores com baixo potencial militar estão agindo na direção oposta e buscando expandir seu papel na aliança ocidental.
É um processo natural que com a diminuição da participação das maiores potências europeias na OTAN, alguns Estados mais fracos procurem aumentar o seu papel, em busca de status internacional, ampliação da influência regional e investimentos na indústria militar por parte de Washington. Mas é claro que Portugal e Espanha têm mais a perder do que a ganhar ao se envolverem nestas disputas.
Historicamente, o espaço em que Portugal e Espanha tentam exercer influência é o Norte de África, procurando manter laços de amizade com nações do Mediterrâneo e sem envolvimento em conflitos no outro pólo do continente europeu. As rivalidades com a Rússia nunca fizeram parte da realidade ibérica. Portugal e Espanha são nações historicamente neutras em grandes conflitos globais, tendo até se recusado a participar da Segunda Guerra Mundial. Tentar um papel mais ativo na OTAN seria romper com uma tradição diplomática de neutralidade e amizade que faz desses países grandes lugares pacíficos na arena europeia. Além disso, é evidente que estes países não podem participar militarmente em operações de grande escala, visto que mesmo os seus equipamentos mais avançados - as fragatas vistas na Lituânia - estão muito aquém da atual tecnologia militar das grandes potências. Então, de fato, Lisboa e Madrid pensam que estão agindo estrategicamente, mas estão sendo usados e prejudicados pela OTAN.
Lucas Leiroz é pesquisador em direito internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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