Apesar de passar despercebido perante a popularidade de Drácula, o livro Carmilla do escritor irlandês Sheridan Le Fanu foi o primeiro a representar os vampiros na literatura — e a protagonista era uma mulher.
Foi em 1897, com a publicação de Drácula de Bram Stoker, que os vampiros se tornaram criaturas mais conhecidas entre os adeptos de literatura de terror. Mas contrariamente ao que se possa pensar e apesar de ser o mais conhecido, Drácula não foi o primeiro vampiro literário.
Na verdade, a primeira representação em livro destas criaturas sedentas de sangue foi no feminino, no livro Carmilla, do escritor irlandês Sheridan Le Fanu, que foi publicado em 1872. E além de ser uma vampira, Carmilla era também lésbica.
Escrito 26 anos antes de Drácula, Carmilla serviu claramente de inspiração a Stoker, que escolheu uma figura histórica — o famoso Vlad Drácula, o Empalador — e transformou-o num vampiro, recorda o Ancient Origins.
Carmilla é ao mesmo tempo uma obra revolucionária e com elementos comuns da era em que foi escrita. O seu estilo é típico da literatura gótica que era popular na altura, incluindo um castelo sombrio, um ambiente sinistro e elementos sobrenaturais.
Mas outros aspectos do livro foram pioneiros, notoriamente, a escolha de uma protagonista feminina que se sentia atraída pela sua vítima, uma jovem rapariga chamada Laura — e aparentemente, a atracção é recíproca, numa mistura de sentimentos de desejo e repulsão. No austero período Vitoriano, histórias com alusões ao lesbianismo eram inéditas.
A independência feminina era também um tema tabu nesta época, quando as mulheres eram apenas vistas como posses para os homens e não tinham autonomia própria. Além disto, as personagens masculinas do livro também desafiam o arquétipo do homem ideal que costumava protagonizar os livros da altura, sendo fracas e ingénuas em vez de fortes e sábias.
A inspiração histórica em Drácula é evidente, mas será que Le Fanu também se baseou em elementos verdadeiros para escreve o seu livro? De acordo com os estudiosos do assunto, o mais provável é que o autor irlandês se tenha inspirado nos trabalhos do francês Agostinho Calmet, especialmente a sua obra de 1746 — Dissertations sur les apparitions des anges, des démons et des esprits, et sur les revenants et vampires de Hongrie, de Bohême, de Moravie et de Silésie.
Este foi um dos primeiros trabalhos académicos que se debruçou sobre os vampiros, com várias teorias sobre estas criaturas e detalhes sobre os casos contemporâneos mais populares na Sérvia e na Hungria.
A palavra vampiro tem inclusivamente origem sérvia, de onde quase todos os mitos sobre estas criaturas são e onde até hoje ainda há uma crença generalizada de que os vampiros existem, sobretudo nas comunidades rurais.
O caso de Arnaut Pavle
O famoso caso de Arnaut Pavle pode ter sido a inspiração original para Le Fanu. Os habitantes da vila de Pavle afirmavam que o homem os assombrava depois de ter morrido e que em vida, teria sido assediado por um vampiro. Pavle ter-se-ia livrado desta maldição ao comer terra da cova do vampiro e sujar-se com o seu sangue.
No entanto, menos de um ano depois da sua morte, os habitantes da vila de Pavle reportavam casos de assombrações e doenças que estariam ligadas ao falecido, que se teria tornado ele mesmo num vampiro. Em Janeiro de 1726, 17 pessoas já teriam morrido devido a esta doença misteriosa.
A primeira vítima de Arnaut Pavle terá sido uma mulher que terá comido a carne de ovelhas que teriam sido mortas por Pavle. A mulher também se terá manchado com o sangue do vampiro, tendo assim continuado a onda de vampirismo na vila.
As autoridades austríacas terão ainda testemunhado uma exumação dos habitantes da vila ao corpo de Arnaut Pavle, que teria “veias repletas de sangue fluído” e o seu corpo e caixão estariam completamente ensanguentados. A sua pele, unhas e cabelo teriam caído e nascido novamente e o seu corpo estaria vermelho.
Ao verem isto, as pessoas terão empalado o corpo com uma estaca de madeira e o cadáver terá reagido com um grito. Terão depois decapitado o corpo e queimado os seus restos mortais, chegando assim ao fim os relatos de assombrações na vila.
Não há forma termos certeza, mas é provável que Sheridan Le Fany se tenha inspirado nestes detalhes sombrios para escrever Carmilla, já que ambas as histórias têm em comum uma personagem feminina adolescente. Resta-nos especular.
https://zap.aeiou.pt/carmilla-dracula-literaria-vampiro-mulher-466200
Foi em 1897, com a publicação de Drácula de Bram Stoker, que os vampiros se tornaram criaturas mais conhecidas entre os adeptos de literatura de terror. Mas contrariamente ao que se possa pensar e apesar de ser o mais conhecido, Drácula não foi o primeiro vampiro literário.
Na verdade, a primeira representação em livro destas criaturas sedentas de sangue foi no feminino, no livro Carmilla, do escritor irlandês Sheridan Le Fanu, que foi publicado em 1872. E além de ser uma vampira, Carmilla era também lésbica.
Escrito 26 anos antes de Drácula, Carmilla serviu claramente de inspiração a Stoker, que escolheu uma figura histórica — o famoso Vlad Drácula, o Empalador — e transformou-o num vampiro, recorda o Ancient Origins.
Carmilla é ao mesmo tempo uma obra revolucionária e com elementos comuns da era em que foi escrita. O seu estilo é típico da literatura gótica que era popular na altura, incluindo um castelo sombrio, um ambiente sinistro e elementos sobrenaturais.
Mas outros aspectos do livro foram pioneiros, notoriamente, a escolha de uma protagonista feminina que se sentia atraída pela sua vítima, uma jovem rapariga chamada Laura — e aparentemente, a atracção é recíproca, numa mistura de sentimentos de desejo e repulsão. No austero período Vitoriano, histórias com alusões ao lesbianismo eram inéditas.
A independência feminina era também um tema tabu nesta época, quando as mulheres eram apenas vistas como posses para os homens e não tinham autonomia própria. Além disto, as personagens masculinas do livro também desafiam o arquétipo do homem ideal que costumava protagonizar os livros da altura, sendo fracas e ingénuas em vez de fortes e sábias.
A inspiração histórica em Drácula é evidente, mas será que Le Fanu também se baseou em elementos verdadeiros para escreve o seu livro? De acordo com os estudiosos do assunto, o mais provável é que o autor irlandês se tenha inspirado nos trabalhos do francês Agostinho Calmet, especialmente a sua obra de 1746 — Dissertations sur les apparitions des anges, des démons et des esprits, et sur les revenants et vampires de Hongrie, de Bohême, de Moravie et de Silésie.
Este foi um dos primeiros trabalhos académicos que se debruçou sobre os vampiros, com várias teorias sobre estas criaturas e detalhes sobre os casos contemporâneos mais populares na Sérvia e na Hungria.
A palavra vampiro tem inclusivamente origem sérvia, de onde quase todos os mitos sobre estas criaturas são e onde até hoje ainda há uma crença generalizada de que os vampiros existem, sobretudo nas comunidades rurais.
O caso de Arnaut Pavle
O famoso caso de Arnaut Pavle pode ter sido a inspiração original para Le Fanu. Os habitantes da vila de Pavle afirmavam que o homem os assombrava depois de ter morrido e que em vida, teria sido assediado por um vampiro. Pavle ter-se-ia livrado desta maldição ao comer terra da cova do vampiro e sujar-se com o seu sangue.
No entanto, menos de um ano depois da sua morte, os habitantes da vila de Pavle reportavam casos de assombrações e doenças que estariam ligadas ao falecido, que se teria tornado ele mesmo num vampiro. Em Janeiro de 1726, 17 pessoas já teriam morrido devido a esta doença misteriosa.
A primeira vítima de Arnaut Pavle terá sido uma mulher que terá comido a carne de ovelhas que teriam sido mortas por Pavle. A mulher também se terá manchado com o sangue do vampiro, tendo assim continuado a onda de vampirismo na vila.
As autoridades austríacas terão ainda testemunhado uma exumação dos habitantes da vila ao corpo de Arnaut Pavle, que teria “veias repletas de sangue fluído” e o seu corpo e caixão estariam completamente ensanguentados. A sua pele, unhas e cabelo teriam caído e nascido novamente e o seu corpo estaria vermelho.
Ao verem isto, as pessoas terão empalado o corpo com uma estaca de madeira e o cadáver terá reagido com um grito. Terão depois decapitado o corpo e queimado os seus restos mortais, chegando assim ao fim os relatos de assombrações na vila.
Não há forma termos certeza, mas é provável que Sheridan Le Fany se tenha inspirado nestes detalhes sombrios para escrever Carmilla, já que ambas as histórias têm em comum uma personagem feminina adolescente. Resta-nos especular.
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