A denúncia falsa de um jovem que alegou ter sido agredido, num ataque homofóbico, em Madrid, incendiou os ânimos na política espanhola, com acusações entre o Governo do PSOE e a oposição, em especial o partido de extrema-direita Vox.
Tudo começou quando um jovem de 20 anos disse à polícia ter sido agredido por oito encapuzados, em plena tarde de domingo, em Madrid. Nesta suposta agressão, tatuaram-lhe a palavra “maricón” nas nádegas.
Mas, afinal, descobriu-se que foi um acto consentido pelo jovem que seria adepto de práticas sadomasoquistas.
Ele terá mentido ao namorado que o levou ao hospital, onde o caso foi sinalizado à polícia. A mentira terá sido motivada pelo desejo de esconder do parceiro a sua infidelidade.
As notícias sobre a alegada agressão provocaram um reboliço na política espanhola, com trocas de acusações mútuas entre os vários partidos.
O alvo do Governo de Pedro Sánchez foi logo o Vox, com o argumento de que a suposta agressão homofóbica seria resultado do seu discurso de ódio.
Quando se descobriu que, afinal, a denúncia era falsa, o Vox e o Partido Popular (PP) vieram acusar o Governo de estar a aproveitar-se do caso para fazer propaganda em causa própria.
“Governo de Espanha toma os cidadãos por imbecis”
O Governo chegou a anunciar que ia direccionar mais recursos e mais medidas para combater os crimes de ódio.
E o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, convocou uma reunião de emergência para discutir essas medidas, mantendo este encontro mesmo depois de se ter descoberto que a denúncia era falsa.
Contudo, o principal visado das críticas é o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, com a oposição a pedir a sua demissão.
No seguimento da suposta agressão, o ministério de Marlaska anunciou medidas como a criação de grupos especializados em crimes de ódio dentro das unidades de informação da Polícia Nacional e da Guardia Civil.
Ora, a oposição diz que é uma falsa medida nova, pois argumenta que já havia especialistas dedicados a este assunto nos corpos policiais.
A presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, eleita pelo PP com o apoio do Vox e do Ciudadanos, é uma das vozes que pede a demissão de Marlaska.
“O Governo de Espanha toma os cidadãos por imbecis“, critica Ayuso, notando que “Madrid é uma região aberta, plural, que respeita os direitos de todos os cidadãos”. “Não se pode consentir a imagem que quiseram passar de Madrid”, defende ainda.
No Vox, Santiago Abascal acusa Marlaska de “manipular” a opinião pública e de ser “um mentiroso compulsivo”, enquanto garante que o seu partido não é homofóbico, nem racista ou machista, e que defende “todos os espanhóis”.
“Não entendemos que haja um colectivo LGTBI, entendemos que há espanhóis de umas ideias ou de outras, de uma tendência sexual ou de outra. Não perguntamos aos espanhóis sobre assuntos privados, menos ainda com quem se deitam“, frisa ainda Abascal.
Já o alcaide de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, do PP, acusa o Governo de querer “estigmatizar o Vox”, sublinhando, contudo, que não concorda com este partido em várias questões, como na violência de género e na imigração.
Sánchez envia “carinho” às pessoas LGBTI
Entretanto, Marlaska já garantiu que não se demite e pediu para “não banalizar as agressões” e “não circunscrever o problema a um caso concreto”.
“Nunca instrumentalizo algo tão importante como são os direitos e liberdades”, disse ainda antes de apontar as garras à oposição.
“Temos um problema estrutural de discursos políticos, com declarações contrárias à tolerância e à diversidade, onde as leis que garantem direitos e liberdades são questionadas”, aponta Marlaska.
E o ministro tem o apoio de Sánchez que já veio notar que esta denúncia falsa não pode tapar “a realidade que sofrem pessoas de muitas orientações sexuais pelo facto de serem como são”.
“Os crimes de ódio contra as pessoas LGBTI aumentaram“, frisa ainda Sánchez, enviando o seu “carinho” a esta comunidade e garantindo “o compromisso do Governo na defesa dos seus direitos”.
A Comissão de Acompanhamento do Plano de Acção de Luta contra os Delitos de Ódio já anunciou que é preciso reforçar os meios para combater este tipo de casos perante o “crescimento constante em torno de 9% por ano” desde 2014, como revela o jornal espanhol El Mundo.
https://zap.aeiou.pt/falsa-agressao-homofobica-espanha-430727
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