Os professores que estão contra a aplicação do Acordo Ortográfico
(AO) de 1990 nos exames do 9.º e do 12.º ano pretendem “bombardear” o
Ministério da Educação e Ciência (MEC) com cartas e mensagens, pedindo
que aqueles ainda possam, este ano, usar a grafia de 1945. Mas a questão
não é pacífica.
A presidente da Associação de Professores de Português
(APP), Edviges Ferreira, não só discorda como afirma que “muitos”
docentes “prejudicaram seriamente os seus alunos por não terem cumprido
em devido tempo as determinações do MEC”.
Um aluno que não domine a nova ortografia e escreva “efectiva” em vez de “efetiva, “pára” em vez de “para” ou “acção” em vez de “ação” por exemplo, pode perder “entre quatro a cinco valores em 20, segundo a presidente da APP. O que, admite Edviges Ferreira, tem consequências potencialmente graves, nomeadamente no que respeita à nota final e ao acesso ao ensino superior.
Os pontos de concordância entre a presidente da
APP e parte dos professores que representa e alguns dos estudantes,
contudo, são apenas aqueles. Edviges Ferreira mantém que “quer
professores quer alunos estão fartos de saber que este ano já só seria
admitida a nova grafia”. Considera ainda que, “se todos os docentes
tivessem feito o que deviam, preparando os alunos activamente, durante
os últimos três anos, para este momento, não haveria qualquer problema”.
Afirma, ainda, não ter dúvidas de que
os docentes não tinham duas hipóteses: “Se são funcionários do MEC e o
MEC determina que o AO é para cumprir só têm de obedecer”, disse, em
declarações ao PÚBLICO.
Os professores que apelam ao MEC
para que admita as duas grafias têm perspectivas diferentes. No grupo de
Facebook denominado “Professores contra o Acordo Ortográfico”, que na
tarde desta quarta-feira reunia 8810 elementos, uma das promotoras, Ana
Mendes da Silva, é clara, ao criticar o poder político por, na sua
perspectiva, querer “obrigar os professores, de forma ilegal, a serem
cavalos de Tróia desta realidade alternativa que subscreveram e na qual
insistem”, ou seja, do AO de 1990.
Ontem, naquele grupo,
mantinha-se um apelo a que os seus membros “bombardeiem” o MEC e os
órgãos de comunicação social com o pedido para que os alunos não sejam
obrigados a respeitar a nova grafia nos exames do 9.º e do 12.º anos.
Junto
estava a minuta de uma carta em que se expõem os motivos. Entre eles, a
inexistência “de um modelo estável de língua, uma vez que a
implementação do AO de 90 originou uma imensa confusão em toda a
sociedade portuguesa, incluindo nos organismos estatais”, “nas próprias
escolas” e “em toda a comunicação social”; e também o facto de, na
perspectiva dos subscritores, “as datas para a entrada em vigor da
obrigatoriedade do uso do AO de 90 nos exames nacionais” terem sido
“definidas partindo do pressuposto de que a língua teria encontrado um
modelo estável durante este tempo (…) o que não se verifica”.
É possível conhecer a preocupação de pelo menos parte dos alunos através do texto da petição pública lançada
em nome Comissão Estudantil para a Tolerância quanto ao AO90 nos
Exames, do Liceu Camões ou Escola Secundária de Camões. Ali, juntam-se
novos argumentos. Os mais de 1500 subscritores (a meio da tarde desta
quarta-feira) sublinham a “indiscutível dificuldade de reaprendizagem da
língua portuguesa para os alunos cuja introdução ao AO de 1990 se
efectuou tardiamente, após o quarto ano de escolaridade obrigatória”. No
texto, a "comissão estudantil" defende ainda que “a preocupação dos
discentes em corresponder aos critérios” de correcção linguística
“interfere na concentração de atenção no conteúdo em exame e,
consequentemente, na sua prestação global”.
Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/aplicacao-do-acordo-ortografico-de-1990-nos-exames-preocupa-professores-e-alunos-1688845
Nenhum comentário:
Postar um comentário