sábado, 14 de março de 2015

TAP nasceu há 70 anos

Companhia comemora o 70.º aniversário neste sábado, num momento em que o Governo tenta concluir a sua privatização com sucesso.

“A TAP é provavelmente a única companhia aérea do mundo cujo fundador é um herói da liberdade”. A frase, da autoria de Frederico Delgado Rosa, neto e biógrafo de Humberto Delgado, o General Sem Medo, abre o texto que assina nas páginas da revista de bordo que este mês está colocada no banco da frente em todos os 77 aviões da TAP, que todas as semanas levantam voo cerca de 2500 vezes. 

O orgulho de "certidão de nascimento" da empresa Transportes Aéreos Portugueses ter a assinatura do então tenente-coronel Humberto Delgado é óbvio e a data nela aposta, 14 de Março de 1945, faz com este sábado seja o dia oficial para a comemorações do 70º aniversario da companhia aérea. Humberto Delgado, à frente do secretariado de aeronáutica civil e que à época despachava directamente com Salazar, demitiu-se das funções no exacto dia em que inaugurou o sonho que o levou a exercer o cargo: fazer uma ligação aérea entre Lisboa, Luanda e Lourenço Marques (actual Maputo). 

“Portugal era a única potência  colonial que não tinha uma companhia de bandeira. Humberto Delgado assumiu essa tarefa e o desafio enorme de fazer a ligação às colónias, que estavam a mais de 20 mil quilómetros de distância. Em tempo recorde, a ambiciosa viagem inaugural da Linha Aérea Imperial (assim chamada ao gosto daqueles tempos) teve a sua descolagem no dia 31 de Dezembro de 1946. Humberto Delgado, agastado com a ausência de Salazar, demitiu-se nesse dia”, contou o neto.

“Os genes de liberdade e da ambição, esses, ficaram timbrados no seu ADN”, termina Delgado Rosa, que se escusa a tomar uma posição pública no assunto que mais tem mobilizado as opiniões no que ao futuro da TAP diz respeito: o processo de privatização da empresa, que está já em curso e que tem a data de 15 de maio como limite para a apresentação de propostas. “Tenho deixado bem claro a importância que atribuo à TAP como empresa estratégica de Portugal e a importância que tem para os portugueses. Quem quer que entre num avião da TAP sente que está a entrar em Portugal.” 

Delgado Rosa vai estar na manhã deste sábado no Museu do Ar na inauguração oficial da Exposição “70 Anos a voar/A Linha Imperial: uma ponte entre a Europa e África”, que documenta o ousado sonho de fazer uma ligação aérea entre Lisboa, Luanda e Lourenço Marques, ao lado de todas as entidades oficiais. À tarde, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, o cineasta António-Pedro Vasconcelos vai coordenar uma festa de anos menos institucional: “haverá um bolo e vamos desenhar com uma moldura humana os nossos parabéns à TAP”, explicou ao PÚBLICO. Uma manifestação que servirá também para sensibilizar a população e recolher de assinaturas para a convocação de um referendo que possa travar o processo de privatização da TAP.

“Há uma ligação sentimental muito forte entre os portugueses e a TAP. Todos têm andado distraídos com outras questões - até porque lhes foram directamente ao bolso, com os aumentos de impostos e as reduções de salários - mas agora está muita mais gente desperta para as negociatas que têm vindo a ser feitas no âmbito das privatizações. É altura de dizer basta”, argumenta o realizador, aqui como porta-voz do “Não TAP os olhos”. 

Este movimento de cidadãos contesta os argumentos de que a privatização da TAP é obrigatória - já que a ela o país se comprometeu na assinatura do memorando com a troika, segundo o Governo -  ou até mesmo urgente. “Já não estamos a falar de uma empresa deficitária, mas de uma empresa rentável”, sustenta António-Pedro Vasconcelos. “Não queremos sobretudo”, acrescenta o realizador,  “que continuem em marcha negociatas como a que deu o monopólio dos aeroportos, que se transformaram num gigantesco centro comercial. Os novos donos da ANA têm-se limitado a aumentar as taxas a seu belo prazer”.

O ponto alto da agenda deste movimento será o concerto marcado para a próxima quarta-feira no Coliseu dos Recreios, por onde desfilarão nomes como Jorge Palma, Kátia Guerreiro, Sérgio Godinho, OqueStrada, e apresentação de Rita Blanco e Virgílio Castelo. Vasconcelos diz que a organização deste concerto - para uma equipa não profissional - lhes tem consumido muita atenção e energias. António Pedro Vasconcelos diz que depois do concerto será mais fácil aos seus elementos se empenharem na angariação de assinaturas que permitam convocar um referendo. São necessárias 75 mil. António Pedro Vasconcelos diz que já foram recolhidas cerca de 25 mil.  Na página de internet, a petição conta com um pouco mais de cinco mil nomes. O certo é que esta petição congrega várias vontades: as dos que são contra o processo de privatização, em termos ideológicos e definitivos, e os que não têm tanta certeza. Isto é, ate admitem que a empresa pode vir a ser privatizada, mas que contestam que o seja nas actuais circunstâncias e por um governo que está em final de mandato.

Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/tap-nascida-ha-70-anos-com-liberdade-no-adn-1689090

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