segunda-feira, 30 de março de 2015

Um medicamento que trava mesmo a obesidade - Pelo menos em ratos e macacos

Resultou expressivamente em ratos e em macacos: os animais obesos diminuíram o peso até se tornarem saudáveis. O próximo passo é descobrir se tem o mesmo sucesso em humanos.
 O comprimido não tem efeitos secundários

Até agora, nada parecia para travar, de vez, a obesidade. Ou a fórmula dos medicamentos não tinha resultados visíveis no corpo de quem os consumia, ou eram fisicamente eficientes mas altamente nocivos para o sistema nervoso.

Há muito que a ciência perseguia um remédio capaz de adelgaçar o corpo humano, sem efeitos secundários. Agora, segundo um artigo publicado na revista Cell Metabolism, o Centro Nacional de Investigações Oncológicas diz ter encontrado a fórmula milagrosa. Ou pelo menos parte dela, visto que teve resultados notórios nas cobaias dos cientistas, ratos e macacos. Sem revelar efeitos secundários visíveis, o comprimido contribuiu para a perda de gordura corporal de 20% em ratos e de 7,5% nos macacos.

É nestes últimos valores que reside toda a esperança para o sucesso em humanos. Francesc Villarroya, chefe de grupo do Centro de Investigação Biomédica em Rede de Fisiopatia da Obesidade e da Nutrição, diz que se trata de “um trabalho muito relevante” pela sua orientação clínica. O próximo passo é estudar o funcionamento em humanos, “um salto complexo claro e cheio de incertezas” segundo Manuel Serrano, do CNIO.

Uma descoberta feita sem querer

Os cientistas do grupo de Serrano estavam a analisar supressores tumorais, isto é, genes que trabalham na proteção contra o cancro. Um deles chama-se PTEN, que diminui a atividade da enzima PI3K, substância que em excesso se associa a processos de neoplásicos (cancerígenas).

Quando modificaram geneticamente os ratos de laboratório, os cientistas não ficaram surpreendidos ao observar que ao potenciar o gene PTEN a concentração da enzima PI3K diminuía e que os organismos se tornavam mais protegidos contra o cancro. Mas ficaram curiosos quando perceberam que os ratos também perdiam peso. E ao estudarem esse fenómeno, chegaram até ao CNIO-Pl3Ki, um inibidor da enzima.

Há dois modos de perder peso: ou se opta por reduzir o consumo de calorias ou se escolhe potenciar o consumo de energia pelo exercício físico. Conforme explica Ana Ortega-Molina, autora do artigo, a enzima PI3K intromete-se no equilíbrio entre o consumo e o armazenamento de nutrientes a nível social, dificultando a perda de peso.

A administração de pequenas quantidades do inibidor desta enzima trouxe resultados muito expressivos em cobaias obesas, embora a perda de peso estabilize a partir de certa altura. Mas durante este processo, apenas foi perdida massa gorda: a massa óssea e a massa muscular mantiveram-se e os valores de glicemia não se alteraram.

É neste ponto que o comprimido traz mudanças para a medicina. É que “na obesidade não se pode perder peso continuamente, pois seria muito perigoso. O ideal é alterar o equilíbrio entre o gasto e o armazenamento de nutrientes para chegar a um novo balanço”, explica Elena López-Guadamillas do CNIO.

Em animais não obesos o medicamento não produziu efeitos, mas demonstrou-se inócuo para o corpo e para a mente.

Fonte: http://observador.pt/2015/03/30/um-medicamento-trava-mesmo-obesidade-pelo-menos-ratos-macacos/

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