O voo que trouxe Paulo Fonseca da Roménia para Portugal trouxe mais 37 passageiros, todos em fuga da guerra na Ucrânia. Aterrou no Aeroporto Humberto Delgado às 23:08 horas, com os passageiros a serem recebidos pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Em declarações à imprensa, numa conferência em pleno aeroporto, Paulo Fonseca começou por agradecer ao Shakhtar Donetsk, clube ucraniano que treinou de 2016 a 2019, antes de se mudar para a Roma, em Itália, por o ter acolhido nos primeiros dias.
“Agradeço também à embaixada portuguesa que nos ajudou a atravessar a fronteira e tenho um agradecimento especial ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, que entrou em contacto com o presidente da federação ucraniana e que foram importantes para conseguirmos atravessar a fronteira”, referiu ainda o técnico.
Depois de ter viajado de autocarro entre Ucrânia e Roménia, tendo passado pela Moldávia, Paulo Fonseca confessa que sente um alívio por estar finalmente em Portugal e em segurança, mas diz estar triste por ter deixado “aquele povo que está a lutar de forma heroica”.
“É um misto de emoções. Por um lado, consegui trazer a minha família, mas, por outro, eles deixaram lá praticamente tudo. Enquanto estive na cidade, não vi tanques russos, porque estávamos num ‘bunker’. O pior começou a acontecer depois de termos saído de lá”, afirmou.
Mulher de Paulo Fonseca emocionada com “guerra cruel”
A esposa, Katerina, que é ucraniana, teve um discurso muito mais emotivo do que Paulo Fonseca. Em cada palavra estava o sentimento de dor.
“O meu coração está na Ucrânia, com os meus amigos, com o povo ucraniano que ficou lá sob ataque de bombas”, realçou Katerina falando de “uma guerra cruel” e “completamente inaceitável”.
“É muito difícil ver crianças, mulheres e civis a morrer. Esta guerra tem de acabar imediatamente”, disse ainda, apelando a que todos ajudem “da forma que puderem”.
“Os ucranianos já ganharam esta guerra”
“O povo está a sofrer, mas está a lutar pela pátria. Ainda hoje soube que há inúmeras pessoas que querem entrar para se alistarem no exército. Há também inúmeras figuras públicas. Por isso, neste momento, já ganharam esta guerra. Temos muitos amigos que se alistaram para defender a Ucrânia. Sabemos que estão bem, mas estão na frente de batalha”, revelou.
Na cabeça de Paulo Fonseca pairavam ainda as imagens da viagem até à fronteira ucraniana, mas, segundo o próprio, o sentimento de incerteza, daquilo que poderia acontecer a qualquer momento tornou tudo mais difícil.
Apesar da ajuda da comunidade internacional, que “tem feito muito”, Paulo Fonseca não tem dúvidas em dizer que é “manifestamente pouco e insuficiente para aquelas pessoas” e deixa um sentimento de esperança aos que tentam viajar para Portugal.
“Portugal e a União Europeia têm-se esforçado para ajudar, mas sinto que há algo mais a fazer porque senão vamos deixar aquelas pessoas morrer. Aos portugueses que lá estão e às famílias ucranianas que podem vir para cá, o que tenho para lhes dizer é que tenham esperança. Tenho a certeza que a embaixada tudo vai fazer para que consigam sair em segurança”, garantiu.
Fruto deste conflito, Paulo Fonseca diz ter-se esquecido do futebol e que a curto prazo não será prioritário, não rejeitando um regresso ao país natal da esposa.
“É claro que penso voltar à Ucrânia. Foi um alívio para mim e para a minha família, mas custou-me deixar aquele povo que está a lutar de forma heroica. Sinto-me aliviado, por mim e pela minha família, mas ao mesmo tempo uma tristeza muito grande. Não tenho pensado na minha carreira. Vou querer regressar, não nesta época, mas no início da próxima”, concluiu.
Paulo Fonseca, de 48 anos, está actualmente sem clube, depois de ter deixado a Roma, contando passagens pelo comando técnico de clubes como Paços de Ferreira, FC Porto, Sporting de Braga, além do referido Shakhtar Donetsk.
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